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domingo, 1 de agosto de 2010

A Puta e o Poeta

   Certa vez, um homem decidiu sair de casa e sentar no banco da praça em frente a sua casa. Ele selecionou meticulosamente qual seria o banco o qual ele sentou. Ele não levou nenhum dinheiro consigo. Eram duas horas da manhã.
   Não tão distante dele, uma mulher o observava. Ela percebeu que ele andou lento, até sentar no banco. O homem estava apenas sentado olhando para o nada. Nem mesmo um maço de cigarros ele puxou do bolso, ainda que ele tivesse um, pois ele tinha.
   Então essa mulher resolveu se aproximar dele. Nenhum homem anda, por aquelas ruas de madrugada, sem propósito. Então ela se separou do seu grupo de colegas e foi para o encontro daquele homem:
   _Oi meu bem. Procurando alguma coisa?
   _Não. – responde seco, o homem.
   _Então o que te trouxe para tão perto do meu escritório?
   _Ora, que te faz pensar que eu tenho qualquer intenção? Um homem não é livre para andar por onde deseja?
   A mulher conhece homens daquele tipo, ou pelo menos pensa assim. Chegam de mansinho, como quem não quer nada. Mas na verdade são os mais desesperados e necessitados ao tipo de serviço que ela oferece:
   _Sim. Um homem é livre para fazer tudo o que tem vontade. Mas nada do que alguém faz é por acaso, tudo tem um motivo.
   _A praça é um lugar livre, para pessoas irem e virem. Crianças brincam na areia, namorados se beijam e se amam apoiados nas árvores. A praça é livre. Mesmo para um homem que se dispõe a admirar a sua beleza enquanto pensa em seu amor não correspondido. A noite faz tudo ficar quieto, como se estivesse sem vida.
   A esse ponto, a mulher já estava sentada ao lado do homem que fala sobre coisas curiosas e empolgantes, mas ao mesmo tempo, perturbadoras. A essa altura ela já está envolta demais na conversa, e esqueceu-se do trabalho:
   _Nossa! Que lindo! Você é um poeta?
   _Sim.
   _Pelo visto é um poeta que fala sobre o amor. – o trabalho voltou à consciência.
   _Não. Sou um poeta da morte. Mas eu também não deixo de falar sobre o amor.
   _Credo! Como você gosta de falar sobre a morte? E como você pode pensar sobre o amor, falando sobre a morte?
   _O amor pertence aos mortais. Todas as criaturas que um dia morrerão, são capazes de amar. Pois para amar alguém, você tem que saber que a sua presença ao lado daquela pessoa não durará para sempre. Portanto você precisa desfrutar de tudo o que pode da vida antes que ela chegue ao fim. O amor é mortal, ele perece, e por isso nós sentimos necessidade de amar.
   _Não entendi. Qual é o sentido de amar, se você sabe que um dia vai acabar?
   _Porque do contrário, você estará deixando de aproveitar aquilo que existe de mais belo e intenso na sua vida. O amor. Por isso amar é importante. Quem nasce e morre sem nunca ter amado, deixou de viver por completo, pois deixou de viver a única coisa capaz de dar sentido à sua existência.
   _Poxa, mas a vida pode ter sentido, mesmo sem nunca ter amado.
   _E que outra coisa terrena, perecível e palpável seria capaz de dar sentido à vida de alguém, mais do que o amor?
   _Deus?
   _Deus é imortal, é imutável. Deus não morre e nem acaba. Nada que é imortal pode ser capaz de amar, pois o amor surge junto com o medo da morte. As pessoas sabem que elas vão morrer, e por isso elas procuram amar. Como pode algo imortal ser capaz de amar se ele não tiver a morte à sua espreita? Deus não está no conjunto das coisas terrenas, perecíveis e palpáveis.
   _O amor não é palpável! Você não toca nele!
   _Você nem sempre precisa ver ou tocar em alguma coisa para saber que ela existe. Basta sentir.
   O Homem pegou a mão da mulher e pressionou contra o próprio peito:
   _Você pode sentir que o amor de outras maneiras.
   Ele soltou a mão da mulher. Extasiada, ela respondeu:
   _Eu não tenho medo da morte.
   _Mas você já aceitou ela?
   _Eu não penso nela.
   _Como não? Você pensa que vai viver para sempre? Não se preocupa com o que vem depois?
   _Eu já disse que não penso nela.
   A mulher olha para baixo. Triste. As sobrancelhas estão tensas e ela parece estar distante nos pensamentos:
   _Você já amou alguém?
   A mulher sorriu e se voltou para o homem. Ela não percebeu, mas ele já com as cochas sobrepostas às dela. Não se sabe precisar quem se aproximou de quem, ou mesmo se foi uma coisa mútua:
   _Como poderia? Não posso me prender, tenho que viver como passarinho solto.
   _O amor nunca faz prisioneiros.
   _Mas eu sou obrigada a viver assim!
   _Mas quem te obrigou a viver assim? O mundo? As outras pessoas? Ou você escolheu isso para si mesma?
   A mulher era jovem. Tinha cabelo moreno com algumas mechas ruivas que eram mais claras no alto, e mais escuras enquanto desciam. Formando uma cascata de tons, desde o rosa até o vinho. Tinha as cochas abastardas e o busto firme. Ela estava no ponto ótimo de sua juventude. Um dia a mais ou um dia a menos, e ela já não seria mais tudo o que ela podia ser naquela noite, em especial. Naquela noite, em especial:
   _Que escolha eu tinha?
   _A de não viver da maneira que você vive.
   _Mas eu não tinha escolha! Você não entende! As coisas não são tão simples!
   A mulher apóia a sua cabeça no ombro do homem. Ela soluça baixo, mas não deixa cair lágrimas. Naquela noite, em especial, ela não podia deixar as lágrimas estragarem a sua maquiagem:
   _Todas as pessoas são livres para fazer o que querem. De irem para onde querem ir. Esqueceu-se do que eu disse agora a pouco?
   _Eu sei! Mas é por que...
   Ela afundou mais ainda o rosto no peito do homem. E então este pode sentir os peitos da jovem começar a roçar a sua barriga. Então ele envolveu seu braço pelas costas dela, até que a sua mão pousou ao lado do quadril da moça:
   _Nós podemos ser qualquer coisa que quisermos, basta sabermos amar.
   A jovem ergueu a sua cabeça e trouxe o seu rosto para bem próximo do homem. Ela não estava mais triste, mas sua expressão demonstrava apenas a inocência de quem busca o saber:
   _Você pode me ensinar a amar?
   O Poeta segurou o queixo da moça pela ponta dos dedos e a deu um beijo nela. Um beijo leve. Ele deu preferência ao lábio inferior. Levando o lábio ainda flácido até a boca da jovem, até que ele contraiu-os em formato de bico, de maneira a massagear o lábio de quem ele beija:
   _Faço tudo por ti. Meu amor!

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