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quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Teaser: Invisíveis:

Primeiro capítulo:


   Por quê? Por que tanto desespero? Por que tanta fraqueza? Já não havia mais tempo para essas perguntas. Ele já tinha tomado sua decisão:
  _ Hei!  Wolverine olha a fila cara!
   Sim, já não dava mais para voltar atrás. O primeiro protagonista desta história, cujo verdadeiro nome já não é mais de tanta relevância, será identificado apenas por Wolverine. É a maneira com que seus amigos o chamam e é a maneira com que ele é familiar a algumas pessoas na internet:
  _Você lembrou de trazer os ingressos?
  _Sim está aqui.
   Ele se encontra agora na fila de um show de “transe” com alguns amigos. Amigos? Seriam mesmo amigos dele? Eram só alguns caras que ele conheceu quando entrou na universidade a três meses. Mas o seu propósito ali naquela noite era outro, era algo muito diferente de apenas tentar se socializar como o de costume. Ele não tinha porque se preocupar com o fato do show ser em um local aberto e que isso iria atrapalhar a acústica. Embora não fosse uma música refinada, mas sim um bando de batidas misturadas com efeitos sonoros de todos os tipos. Sua vinda àquele show poderia ser um evento desencadeador de muitos outros que o sucederam. Mesmo que estes tais eventos aconteceriam com ou sem ele, havia ali um significado maior.
   Ele entra no show, dança e pula. Garotas se interessam por ele, mas tem de recusar, não poderia se prender a nada. Não ali. Não agora. Ao passo que teve a oportunidade, se afastou de seus colegas, e se dirigiu a um dos cantos das cercas em um local pré-determinado. Ele então pula o cercado e espera ao lado de um posto policial onde não havia ninguém dentro ou fora pelas redondezas. Faz frio. Ele começa a se perguntar novamente se ele havia tomado uma decisão certa, de vir até ali, de pular aquela cerca e abandonar seus colegas de classe para trás. Tanto porque sua vinda ali significava mais que abandonar seus colegas, as garotas e o show, ele estava virando as costas para tudo.
   Foi então que ele ouviu o barulho de rodas rolando de dentro do posto policial. Parecia vir bem lá de dentro, até que o barulho foi se aproximando e pula de lá dentro um homem em cima de uma cadeira com rodinhas. Como essas que se usa para mexer em computadores. O homem girou com a cadeira e então apoiou os pés sob dois dos cinco pés da cadeira, exercendo pressão o suficiente para que ela parasse lentamente. Ele é habilidoso:
  _ Gunter?
   Perplexo Wolverine não reconhece ou compreende a figura na sua frente. Ele usa uma calça jeans cheia de rasgas e desbotados. Uma blusa branca cavada, para deixar os músculos amostra. Têm o cabelo bem curto na cabeça, uma barba em torno do maxilar, um sorriso e um olhar desvairado:
  _ Ah sim! Wolverine não é mesmo?
   Silêncio:
  _Você pensou na minha proposta?
   Wolverine deu de ombros. Ainda está em estado de choque, tentando aceitar a imagem a sua frente. Gunter entorta os olhos para o lado pensando, “esse ai vai dar trabalho”:
  _O que foi? Ainda não se decidiu? Ou você só se concentrou ate agora em chegar ate aqui?
   Gunter estava tentando entrar na mente de sua presa, descobrir o que se passa lá dentro. Tentando se conectar com ele de alguma forma, pois ele já percebeu que sua aparência inspirou mais medo do que confiança. Eles pareciam o oposto. Gunter era desleixado, se vestia mal. Emanava um comportamento vândalo e perigoso. Wolverine por outro lado usava sempre uma calça jeans de grife. Um casaco de frio com pano leve e manga longa era o seu uniforme. Tinha um cabelo tamanho médio penteado para trás, estudava na universidade e não bebia com freqüência:
  _Bem, eu pensei sim, mas eu ainda tenho medo.
  _Medo? Você? As coisas que você me dizia é que inspiram medo. Alguém como você não tem que sentir medo, você tinha que provocar medo.
  _Se eu for com vocês, eu vou pod...
  _Voltar? Não. Uma vez conosco é ate a morte, e não existem meios termos. Não entendo Wolverine, porque você está na dúvida? Não é o que você sempre quis? Deixar tudo isso para trás, abandonar tudo e viver sem regras ou limite? Ser o seu próprio deus, viver a sua própria maneira? Não é isso o que você sempre sonhou?
   _Mas eu fico pensando sobre o que eu vou perder. A vida que eu poderia ter.
   Gunter sorri. Com dúvidas deste tipo ele sabia lidar:
   _Oh, então você quer saber sobre a vida que você poderia ter não é mesmo?
   Ele retoma em um tom mais grave, e passa a ter uma expressão estranha no rosto, uma expressão de prazer. Wolverine se assusta e passa a assumir uma expressão mista de espanto como quem está prestes a entrar em apuros:
   _Você vai se formar na universidade como engenheiro elétrico. Vai encontrar um bom emprego, daqueles em que você é bem pago. Você vai subir rápido na empresa, mas vai estacionar no cargo de chefe do centro de desenvolvimento de tecnologias de alguma empresa grande. Você vai se casar com uma garota, bonita, mas não estonteante. Eu posso ate dizer que ela é morena. Ela é bem cuidada. Garota de família. Se dependesse dela o sexo seria sem graça, mas você se empenharia para compensar essa debilitação. Você teria filhos, um garoto e uma garota. O garoto iria desistir de estudar para virar um surfista profissional. A garota terá uma banda de rock, mas ela iria seguir o bom exemplo do pai e cursar administração. Trabalharia também para alguma empresa de grande porte. Você envelheceria, se aposentaria e passaria a dar aulas de matemática para ensino médio em uma escola qualquer.
   Uma vida como essa seria para qualquer pessoa, uma vida a se invejar. Menos para Wolverine. Ele encara a história com repugnância e desprezo. Uma vida normal, como um mortal qualquer, não estava nos planos dele. Ele nasceu acreditando que veio ao mundo para ser grande, para ser alguém importante, um nome a ser lembrado nos livros de história. Ele quer dominar o mundo com sua mente e grandeza:
   _Muito bem, você descreveu a minha vida de casado e dentro do emprego, aliais, eu sempre me imaginei casando com uma loira. Mas e quanto ao mundo lá fora?
    _Ah, sim! O mundo lá fora. Nós já fomos grandes sabe Wolverine. Na época das grandes civilizações, na época das verdadeiras civilizações. Esparta com sua conduta rígida, onde se criavam homens de verdade. Atenas, a cidade dos filósofos. Japão e a sua bela cultura dos samurais, viver pela espada, morrer pela espada. Já houve grandes guerras, grandes mudanças, revoluções, democracia, socialismo, neoliberalismos e outros mais. Mas hoje nos vivemos em uma época ociosa, uma geração de garçons e secretárias. Nós somos meros figurantes no mundo. A história está sendo escrita pela caneta de porcos dentro de ternos, não mais pelos gritos dos jovens. Ensinaram-nos que o nosso objetivo era estudar, arrumar um emprego, casar, reproduzir, envelhecer e morrer sonhando com algum dia aparecer na televisão. Patético. Uma geração inteira dominada por uma caixa que emite luz. Desesperados e fracos. Nós nascemos para ser grandes, mas nos ensinam apenas a ser pequenos. Vamos continuar ciscando ate descobrirmos que podemos voar. Você sabe voar Wolverine?
   _Sim!
   Sem dúvida ele sabe, dá saltos que ninguém acredita, e no ar, gira como se tivesse atravessado o limite da luz e do tempo:
   _Mas enquanto ao deus deles?
   Eles se entreolharam por um tempo ate caírem na gargalhada. Voltaram a se olharem então com sorrisos esboçados nos rotos, ate que então Gunter deu o golpe final:
   _Eles enfeitaram o deus deles com coroas de ouro e diamante, palácios e tecidos egípcios. Tudo para não admitirem que na verdade eles adoram um carneiro de ouro!
   Foi naquele momento, bem ali, que Gunter penetrou no coração de Wolverine. E pôde ver então, a sua alma, a sua essência, o seu combustível:
   _Mas essas palavras não são minhas, são suas. Não é mesmo Wolverine?
   Não era preciso dizer mais nada. O mais difícil já tinha passado:
   _Então. Você vem?
   Wolverine o seguiu silenciosamente. Ate que avistou uma BMW e arregalou os olhos. Alguma coisa estava estranha, alguma coisa não condizia ali. Muito diferente do esperado o aparente vagabundo dirige uma BMW:
   _Está com o queixo no chão por quê? Não esperava encontrar um fusca não é?
   Na verdade, era exatamente isso que ele esperava:
   _Entra ai.
   No momento que abriu a porta traseira do carro, teve mais um motivo para se assustar e se maravilhar. Ela é linda de tirar o fôlego, morena e de corpo impecável:
   _Pocahontas?!
   _Vocês demoraram um bocado, mas não faz mal.
   Ela sorri de forma enigmática. Como foi dito antes, a vinda de Wolverine ao show de "transe" teve um significado muito maior do que o imaginável. Porém, inimaginável mesmo era o que esperava por Wolverine no momento que ele saísse daquele carro.


Mais tarde eu disponibilizo aqui um link para baixar o meu primeiro livro. Ele está sob revisão no momento.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

A Maneira com que percebemos as coisas

   Esta vendo está linha de texto que leu agora mesmo? Olhe novamente, ela já não é mais a mesma. O mesmo vale para todos os objetos que lhe cercam neste mesmo instante, incluindo o seu próprio corpo. Isso acontece por uma razão muito simples. Tudo o que você vê, está na verdade sendo refletido pela luz. Portanto tudo o que chega aos seus olhos é apenas uma fotografia do passado daqueles objetos. Isso sem mencionar o fato de que os objetos estão em constante movimento devido às vibrações das moléculas, e também estão em constante transformação mórfica devido às reações químicas.
   Atrelada com todas essas idéias, ainda temos a nossa memória inferindo sobre a nossa visão. Para evitar o desgaste de armazenar, a todo o momento, toneladas e toneladas de informações, o nosso cérebro chegou a uma interessante solução. A nossa visão está constantemente comparando o que vê com coisas que já conhecemos. Exemplo, quando você se recorda de ter visto um dito objeto, mas não é capaz de descrever-lo em detalhes, apenas identificar qual objeto era. Tomando como base as semelhanças, entre o que se vê e a imagem obtida, nosso cérebro literalmente vê o que quer. A consequência disso é conseguir enxergar monstros ou espíritos, onde só havia sombras, principalmente depois de assistir um filme de terror.
  Com isso, tomamos a conclusão de que a visão pode sofrer influência do nosso estado emocional. E a nossa capacidade de enxergar alguma coisa ou não, depende também do nosso conhecimento. O cérebro maduro odeia ser colocado em frente de algo que ele não compreende. Por isso ele está o tempo todo tentando comparar o que vê com algo ou alguma ideia que ele conhece previamente.
   E o que dizer a respeito dos trovoes? Trovoes são um tanto lentos não concorda? É possível contar os segundos de diferença entre a chegada do relâmpago e a chegada do trovão. Porém, ainda assim, não se pode confiar em nenhum dos dois para precisar o momento em que o raio caiu.
   Ambos, visão e audição, são os sentidos mais frequentemente usados por todos nós para percebermos a realidade que nos cerca. E ainda assim, são os sentidos mais falhos e imprecisos que possuímos. Exemplo disso é a maneira com que a nossa visão se deixa tão facilmente ser enganada por uma ilusão de ótica. Ou ainda, a maneira com que a tecnologia de áudio MP3 é capaz de fazer a sua audição lhe informar que tem um determinado som que está sendo emitido a uma determinada distância ou posição dos seus ouvidos. Quando, na verdade, se é sabido que os fones estão grudados nos seus ouvidos. Mas o melhor exemplo, aquele em que todos os seus sentidos lhe apontam uma mentira, é quando você é posto de frente para um Ilusionista. O Ilusionista é habilmente capaz de fazer todos os seus sentidos lhe apontarem como certa, uma ideia equívoca.
   Como consequência de termos uma capacidade sensorial tão pobre e limitada, nós temos extrema dificuldade de traduzir a realidade do universo nas nossas linguagens e ciências. Percebemos bem isso quando tentamos afirmar verdades ditas absolutas a respeito da realidade que tanto afirmamos perceber ou sentir.
   Se analisarmos a história da construção do saber e do conhecimento através de métodos empíricos e racionais, encontraremos um volume exorbitante de erros:
   _O átomo é indivisível! - Afirma Dalton.
   _Que isso! Ele é composto de partículas com cargas jogadas em uma gelatina de carga oposta à das partículas. – Explicou Thompson.
   _Lhes faltam é critério experimental, senhores. O átomo é organizado em camadas de partículas minúsculas que giram em torno de núcleo maciço, porém pequeno. – Monologa Rutherford.
   _Que viajem! – Exclama Dalton.
   _Muito interessante Rutherford, mas esqueceu de mencionar sobre os sub-níveis e os orbitais. Tirando isso, você até que descreveu muito bem! – Completou Bohr.
   _Agora eu me embolei todo! – Se confunde Thompson.
   _Somos dois então! – Concorda Dalton.
   _ Na verdade, faltou um bocado de coisas. – Interfiro eu.
   _Como? – Indagam todos, menos eu, em uníssono.
   _Faltou falar sobre os quarks, sobre o spin dos elétrons e dos prótons. Faltou principalmente explicar que a matéria é composta por uma infinidade de minúsculas cordas que vibram na décima dimensão.
   _A juventude está perdida! – Se espanta Dalton, apoiado pelo Thompson.
   _Será que até o ponto aonde nós chegamos, não está bom demais? – Pergunta Bohr.
   _Não! Não está! – Enfatizo eu.
   _Não está sendo um pouco exigente demais? – Se defende Rutherford.
   _Não exijo nada além de que me descrevam a realidade com a mesma precisão com que todos vocês acreditavam estar fazendo. – Concluo eu.
   Eu poderia fazer diversas outras estórias como essas para diversas outras ciências, com diversos outros personagens. Eu contracenaria com Lamarc e Darwin. Discutiria traumas de infância com Freud e ainda bateria um papo muito cabeça com Thomas Hobbies e Platão. Porém eu julgo ser estritamente desnecessário.
   Por mais que nos esforcemos, a capacidade que temos de perceber e traduzir a realidade é limitadíssima e falha. Por isso, por mais que possamos apontar hoje para uma afirmação e atestar-la como verdade, ela será apenas uma aproximação da realidade.
   Para que algo possa ser dito como verdade, deve antes passar pela provação das perguntas. Se uma afirmação, depois de questionada sobre os mais variados prismas possíveis, se manter verdadeira, passará a ser o que possuímos de mais próximo da realidade. Pois caso surja outra pergunta que coloque essa afirmação em incoerência interna ou mesmo em contradição, passará a ser necessário a elaboração de outra afirmação que se sustente melhor.
   E assim deveria proceder-se o desenvolvimento do conhecimento. Com o mínimo de postulados possível, e sem nenhuma verdade empurrada ou mesmo aceita sem questionamentos.
   Concluo, pois dizendo que todo o saber que possuímos hoje se manterá verdadeiro apenas, e exclusivamente, até que surjam idéias que combatam esse saber na devida eficácia. Até lá, praticaremos as aplicações sobre o que conhecemos com a devida funcionalidade. Mas nunca nos esquecendo de uma ideia:
   “Não é por que é funcional, que uma prática se torna correta. Quem faz o certo sem entender porque o faz, peca na falta do conhecimento.” 

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Para não dizer que não falei de fezes

  Existe um evento da cultura brasileira que se repete a cada dois anos. A poluição aumenta consideravelmente na forma residual, auditiva, visual e intelectual. Debates políticos se tornam corriqueiros entre cidadãos comuns, ainda que os mesmos tenham ignorado as notícias sobre o assunto durante todo o período externo a este evento. Não os culpo, eles são forçados a isso.
   Processo Eleitoral. A festa da democracia, no sentido mais literal possível. Pois não apenas parece uma festa, mas a de fato é! Comícios, festas, brindes, presentes e convidados especiais. A impressão que tenho, é de que os candidatos gastam mais tempo e dinheiro se promovendo para os eleitores, do que trabalhando para atender aqueles que tanto se esforçou para entreter.
   Direito ou obrigação? Os dois. É um direito que lhe é forçado pela goela. Surge uma onda, uma febre, onde todos se tornam especialistas e exímios peritos no assunto. Mas a maioria o faz por obrigação, e não por direito. Elas se sentem forçadas a tomar partido e opinião sobre um assunto o qual são habilmente instruídas a não pensar sobre (pelo menos não diretamente.
   Poder de cidadania se resume em operar valores premeditados em uma urna? Valores não apenas em números, mas em valores sociais. A democracia se restringe à eleição? Não haveria forma de o cidadão tomar a voz, ainda que sem estar em posse de seu título de eleitor?
   A imprensa tem um papel muito especial nesse festival. Durante o período externo à eleição, ela bombardeia a população com notícias sobre a má qualidade do sistema de saúde, educação, transporte e a falta de segurança. Mas curiosamente, ela nem sempre faz questão de enfatizar a quem compete à responsabilidade de resolver problemas dessa natureza. Portanto os jornais nada mais incentivam se não a insatisfação e o medo por parte da população. Medo sem atitude, insatisfação cômoda. Mas durante o período das eleições, ela não simplesmente intensifica o seu papel de “denúncia”, mas faz questão de transformar em estatística e em gráficos todas as notícias dos períodos passados. Sendo, portanto, uma forma de incentivar o cidadão a procurar por um candidato que resolva tais problemas. Muito bonito, interessante. Mas será que o momento de reclamar é apenas na época de eleições? O poder de voto parece ser visto pela população como um balançar de uma varinha mágica, onde resolver os problemas ou não se resume a uma questão de boa escolha. Mas caso você girar a varinha errado, o feitiço pode falhar, ou mesmo se voltar contra você. Parece muito falho e impreciso, precisa haver outra meneira.
   Marxistas de carteirinha teimam em dizer:
“Já passou da hora das massas assumirem o poder!”
A massa cinzenta de quem clama tal alegação parece tender mais para massa de bolo à massa cerebral. Um boló de ideias obsoletas e experimentalmente (e na prática também) provadas como falhas. Muito se clama por uma revolução na sociedade. Particularmente, creio ser necessária uma revolução na mente dos homens, para depois mudar o sistema.
   Quando se precisa reivindicar por melhorias no seu bairro, que atitude o cidadão toma? Espera pela próxima eleição para procurar um candidato que atenda os seus pedidos (arriscando não encontrar nenhum)? Não há tempo para esperar, político bom não cai do céu. Devemos de organizar a nossa comunidade, debater os nossos problemas e exigir não apenas nossos direitos, mas atitude por parte dos governantes!
   As massas não precisam tomar o poder, mas exercer o poder que já lhe compete. Precisamos abrir as nossas mentes, e atentar para as oportunidades que vão além das eleições. Meu voto, eu já decidi. Nulo para todos os cargos. Prefiro exercer minha cidadania de outra forma, muito obrigado.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Canalizando

    Existe um canal de televisão, não é muito popular, mas é o meu canal favorito. As pessoas não gostam muito de acessar ele, mas o fazem eventualmente, quer queiram ou não. Ele é acessado através de um botão, geralmente localizado no topo do controle remoto. É o maior botão de todos, algumas vezes ele é vermelho. Enfim, você pressiona esse botão, e então a tela fica totalmente escura, o áudio fica mudo e você é obrigado a interagir com as pessoas à sua volta. É o meu canal favorito.
   Sinto angústia de ter um aparelho de televisão ligado perto de mim, não importa qual programa esteja passando (salvo exclusivas exceções).  A televisão tem uma função social bem peculiar, ela serve para isolar as pessoas uma das outras. Imagine uma perfeita desculpa para ignorar as pessoas ao seu lado, muito simples, vocês estão assistindo televisão juntas. Basta um televisor ligado, e é a desculpa perfeita para você ignorar a presença de outras pessoas a sua volta. A televisão é excelente para locais onde as pessoas são forçadas a dividirem o mesmo cômodo, mas não estão interessadas em interagir com as outras. Lobby de prédios, consultórios médicos, fila de banco e até mesmo academia de ginástica.
   Mas agora, dentro de casa? Que atrocidade! É suicídio intelectual! Com pessoas à sua volta, você realmente precisa de televisão para se entreter? Ok, não precisa voltar para as trevas, tem sempre o computador e o vasto mundo da internet. Ao invés de ligar uma televisão, por que não convidar os seus amigos para assistirem vídeos engraçados no youtube? E qual a diferença? A maneira racional com que você pode selecionar o conteúdo que melhor lhe agrada. É claro, se você optar por porca qualidade de conteúdo, internet ou televisão, pouco diferença fará. Mas o bom internauta sabe, a internet tem de tudo para todos os gostos, da melhor à pior qualidade possível (desconsiderando o gosto).
   Eu não estou aqui  para falar que o único mal da televisão é a qualidade dos programas, ainda que a maioria seja intragável. O verdadeiro mal da televisão, não é cultural, mas social. Imagine uma criança ou adolescente que esteja sofrendo sérios abusos na escola. Os pais dessa criança trabalham até o fim da tarde, portanto tem pouco tempo com a criança, e o único momento que a criança teria para conversar com os pais sobre seus problemas é justamente quando seus pais estão assistindo: novela, jornal local, mais novela, jornal nacional, mais novela, um seriado e depois vão dormir. Quando é que essa criança vai ter tempo para se abrir e dialogar com seus pais, no intervalo comercial? Que ridículo:
   _Mãe, eu precisava conversar com você...
   _Agora não menina! Já vai começar minha novela!
   A realidade se estende além de necessidades especiais, como o caso de uma criança que sofre abusos. Para que uma criança e um adolescente tenham suas bases emocionais bem estruturadas, elas precisam do diálogo com seus pais. Mas o que tem se observado, principalmente na geração da década de 2000, é o isolamento não apenas social, mas físico. As crianças passaram a ter televisão dentro de seus quartos. Sendo então, as pessoas dentro de casa não necessitam nem mesmo estar no mesmo ambiente para se isolarem novamente na frente da televisão. Agora, cada um tem a sua televisão, dentro de seu espaço individual, dificultando ainda mais a comunicação. É claro, pode-se muito bem pensar, “o computador tem o mesmo efeito”. Mas o computador ainda permite que haja uma interação através de ferramentas de mensagens instantâneas, ou ainda redes sociais. Já a televisão, obriga cada pessoa a se tornar uma ilha, um fosso, como um mero receptor passivo, ainda que esteja batendo os ombros com outras pessoas em um sofá apertado.