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quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Fim de Ano

            Eram 13:32 e como de costume, o professor estava atrasado. Meu amigo/colega me chamou em sua carteira:
            _Ai cara, vem cá ver uma questão. Eu não estou entendendo como; estou fazendo as contas, mas não confere com a resposta.
            Prepotente, comecei a resolver a questão no próprio quadro, aproveitando os pincéis que ali estavam largados. Quando meu caro amigo Anderson interveio e mostrou que eu estava completamente errado em minha solução. Perplexo e contente por estar sendo corrigido, eu tentei armazenar o máximo possível sobre a “nova perspectiva” sobre o conteúdo da prova que eu estava a menos de 5 minutos de realizar.
            O professor chega à sala. Todos se dispõem em suas carteiras. De certo, eu nunca estivera tão ansioso. Nem mesmo o vestibular (os dois que realizei) me deixou tão ansioso quanto estive naquele momento. Eu abro a prova. Leio a primeira questão, pulo para a próxima. Segunda questão, eu passo de novo. Mas a terceira questão, essa sim me despertou lembranças. Justamente a mesma questão que me aventurei a resolver 5 minutos antes, no quadro.
            Foi a diferença entre aprovação e reprovação. Sim! Pela Glória da China, sim! Eu fui aprovado! Passei em Álgebra Linear! Passei em todas as matérias da minha faculdade. E a sensação, foi melhor do que passar no vestibular. Meu amigo que me corrigiu quanto à resolução do quadro, esse também passou, e passou com média até alta. Mas aquele que propôs a questão da minha salvação, não fora aprovado.
            Passei meu último mês em uma correria sem fim. Mil tarefas por fazer, e um blog para atualizar. Mas agora que estou de férias, vou estar mais atarefado do que nunca. Pois uma coisa é se dedicar para alcançar as expectativas impostas por terceiros. Outra coisa bem diferente é trabalhar para cumprir com suas expectativas e projetos pessoais. Com isso começam aquelas velhas promessas de fim de ano:
            _Prometo estudar mais.
            _Prometo lutar para emagrecer.
            _Prometo encontrar uma namorada.
            _Prometo arrumar um emprego.
            _Prometo escrever mais para o meu blog.
            Deveriam designar no universo fantástico, algum lugar mitológico para onde iriam as promessas mal cumpridas. Feito uma Terra do Nunca. Poderia ser a Terra do Prometeu (sem profundas intertextualidades). “Prometeu, mas não cumpriu” seria um bom slogan.
            Tínhamos fechado a conta no bar e estávamos atravessando uma ponte que liga dois bairros quando eu resolvi fazer uma confissão aos meus amigos:
            _Eu odeio o natal.
            _Sério? Por quê? – Indagou o mais sagaz dos outros dois presentes.
            _Eu odeio tudo em relação ao natal. Odeio a árvore de natal, ela é tão feia. Odeio todos os enfeites de natal. Odeio aquele boneco quebra nozes, ele é feio. Odeio aqueles enfeites de doces em forma de bengala. Odeio essas malditas luzes que ficam piscando noite e dia, é ridículo e feio também.
            _”Grinch”!
            _Eu to falando sério cara. E o pior de tudo é o papai Noel. Ele com aquela cara barbuda e aquelas bochechas rosadas. Ele é tosto. Não gosto dele. Essa história de velhinho bondoso nunca colou comigo.
            _Cara, você está ficando verde! – Meus amigos quase gargalhavam.
            Muitos viriam a me dizer que o verdadeiro espírito natalino diz respeito ao nascimento do filho de deus. Mas eu acho que está mais relacionado com a maneira com que Constantino desejava difundir o cristianismo e acabou por juntar datas de festividades pagãs, para ajudar a adaptação no processo de conversam. Mantiveram o clima de festividade, só trocaram o foco da atração.
            Desde criança, nunca senti muita atração ou conforto pela sensação de fim de ano. Natal, e seis dias em seguida, ano novo. Um clima de depressão sempre bateu em mim. Afastado de mais colegas de escola, não tanto por não ter amigos, mas por que todos estavam trancados juntos à “família”.
            É como se não tivesse onde me esconder, sem escapatória ou opção. Pois se desejasse estar longe de minha casa enquanto comem peru ou erguem taças de espumante, para qual outro lugar eu iria? Nem mesmo os mais profundos confins de minha mente seriam capazes de me proteger e obscurecer sobre essa tediosa experiência de fim de ano. Sorrisos desarranjados, abraços desconfortáveis. Oh, Clarice! Eu te entendo, eu finalmente te entendo!
            Então é isso pessoal. Essa foi a postagem mais ou menos descontraída do fim de ano. Desejo uma farta mesa de Natal e uma boa bebedeira de ano novo a todos!

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Brasil-Português

           Nem sempre gostei escrever. Aos meus 14 anos fazer engenharia elétrica era uma idéia nítida e inviolável. Tendo meus hábitos mentais totalmente voltados para o campo das exatas, eu tentava esquematizar o meu estudo de maneira lógica e metódica nas outras matérias. Criava teoremas, padrões, regras, e modelos matemáticos para me facilitar o estudo das coisas que não pareciam tão claras e óbvias quanto “ax +b = y”.
            Ainda que depois de reencontrar-me com minha veia filosófica e metafórica, eu continuo por utilizar de equacionamentos dentro das ciências mais subjetivas, como a história e a sociologia. Fiz dessa característica o meu diferencial. Permitindo-me enxergar eventos e acontecimentos de maneira por muitos tida como inusitada. O que para outros possa ser visto como palavras desconexas e abomináveis, para mim é racionalização e lógica. Fato é que no campo das humanas, não existe resposta errada, apenas uma forma diferente de enxergar as coisas.
            Um dos diversos modelos que criei na minha época de colegiado foi sobre o processo de colonização ocupacional. Imaginemos uma civilização X que deseja dominar e colonizar uma civilização Y. Existe uma série de processos e recursos que a civilização X terá de lançar uso durante o processo de domínio. Primeiro, ela terá de impor sua ocupação através da superioridade bélica. Caso queria evitar um massacre, ela terá de exibir as suas armas mais poderosas, a fim de intimidar a civilização Y, e dominar-la então pelo medo.
Uma vez dominando o território pela força bélica, é preciso conquistar o seu espaço no meio cultural da civilização Y, substituindo a cultura de Y pela cultura de X. Devem ser abertas escolas para ensinar aos cidadãos de Y, a língua, a história e toda a doutrina da sociedade natal de X. Passar ensinamentos religiosos, de maneira a derrubar a religião de Y, e por fim impor todo o regimento de normas e comportamentos de X em Y.
Como se não bastasse, X deverá por os recém convertidos cidadãos de Y para trabalhar nos ofícios por eles designados. Parênteses: Eles devem trabalhar em ofícios de baixa e média remuneração, e cujo lucro do trabalho fique concentrado nas mãos de X, deixando para os trabalhadores de Y apenas o salário obtido pelo mais valia.
Uma vez definido o modelo acima, dele pode-se referir diversos exemplos, e acrescentar também diversas variações. Lembrando que o processo descrito acima não trata da colonização mercantilista. Dado tal idéia, quais exemplos você, leitor, procuraria referir sobre esse modelo descrito? Em uma representação de (X,Y), citaríamos (Inglaterra,Índia); (EUA,Japão); (Inglaterra,Treze Colônias); (Inglaterra,África do Sul). Mas como o título dessa prosa bem sugere, deve imaginar que eu estou aqui para falar sobre a colonização brasileira. Pois para ser sincero, foi exatamente o exemplo no qual me baseei para montar esse modelo. Mas não estou aqui para falar do nosso ouro nas igrejas de Portugal. Nem mesmo sobre o nosso ouro que foi usado para propulsionar a industrialização da Inglaterra (Não consegue ver a ligação? Desculpe, não quero fugir do foco).
De toda a minha analise, o elemento inusitado eu sempre guardo para o final. Pois após ser bombardeado noite e dia com notícias e comentários sobre a ocupação das favelas no Rio de Janeiro, não posso evitar falar sobre o assunto que não gostaria redundar em meu blog. Mas quando a realidade reflete nas minhas obras anteriores aos acontecimentos, por mais que me custe, sou obrigado a trazer um feedback.
Já estabeleci aqui antes, na minha postagem sobre o “Tropa de Elite 2” (Vinagre), mas volto a pontuar. As favelas do Rio de Janeiro já estão em um perfeito estágio de paralelismo de poder com o nosso estado. Funcionam exatamente como um núcleo independente, utilizam de táticas de guerrilha e comportam-se como uma. Em muito a ocupação das favelas do Rio, coordenado com a autorização do Governo do Estado do Rio de Janeiro, se assemelha para mim com uma operação de reconquista. Um processo colonial, onde o nosso estado (brasileiro?) pretende dominar e conquistar o território que foi perdido para o estado paralelo.
As FARQ’s, o IRA, o ETA, e diversas outras regiões que desejam ou já desejaram emancipação territorial do estado vigente no país em que vivem, fizeram uso do terrorismo para tentar impor suas independências como nações. Suas lutas, ainda não alcançaram a vitória em nenhum exemplo que possa ser citado. Não seria diferente com os traficantes das favelas. Mas caso me pergunte, em que ponto eles praticaram terrorismo, peço que junto com uma revisão das últimas notícias sobre o Rio de Janeiro antes da operação das forças armadas, leia o texto que virei a expor abaixo. É a declaração que foi distribuída em forma de carta aberta para os moradores das favelas e das regiões periféricas à mesma:

           “Atenção

            Foi decretada pela união dos partidos dos partidos CV, ADA e CTP todos outros partidos que tenha respeito e lealdade, força, humildade e amor no coração e muita dignidade a favor de toda comunidade, por favor se unam a nós.
            Foi decretado pela união dos partidos, que quando tiver repressão da polícia em qualquer favela fazendo covardia, derramando sangue, todas as comunidades pegaram seus fuzis e atiraram em prédios, em carros importados e no que tiver de mais rico próximo a sua favela, saqueando empresas, lojas e mercados!
            Foi decretado pela união dos partidos, que cada morador inocente pobre que a policia matar, morrerá duas pessoas ricas.
            Foi decretado pela união dos partidos, que cada integrante de partido que a polícia matar morrerá dois policiais e seus familiares, pela união das comunidades que cansou de covardia dos policiais e do sistema, porque são eles que trazer as drogas e as armas, o empresário financia e a policia facilita ficam os políticos roubando bilhões, matando muita gente só com uma caneta, depois quer mandar quem trás as drogas e as armas para o partido vir aqui na comunidade e matar inocente pobre não dá lucro para boca de fumo, quem compra todas drogas são as classes médias e os ricos.
            ‘Irmão, pode pisar em qualquer favela olhando na bola dos olhos, mostrar que esse modo de agir é retrólogo, a revolução verbal é aterrorizadora, junta seus pedaços e vem para a arena nosso irmão do PCC  falou que o inimigo está de terno e gravata e em nome da paz e a favor de todas as favelas, que é a hora de união, de revolução. Definitivamente, sem união não dá, então vamos todos juntos.’ “

            Esclareço aqui, que apenas transcrevi a carta exatamente como esta foi enviada. Sem o menor rigor de regência temporal ou nominal, sem coesão textual e nem mesmo uma pontuação digna de legível. Acho que fica bem claro que não inventei tal carta, apesar de não ter tido contato direto com ela. Mas dela, eu gostaria de destacar apenas um parágrafo:

“Foi decretado pela união dos partidos, que cada morador inocente pobre que a policia matar, morrerá duas pessoas ricas.”

            Essa, para quem não percebe, é uma declaração de guerra, uma promessa terrorista. Pois então, dito e feito. Os atentados do dia 23 de novembro se aconteceram devido à promessa de guerra feita pela “união dos partidos” dos guerrilheiros das favelas do Rio.
“Favelas do Rio”, “Traficantes”, tento dar um nome para esse estado paralelo, mas me esqueço que ele tem nome. O PCC (Primeiro Comando Capital) já tentou assumir e coordenar revoluções no passado. Todos lembramos bem das centenas de ônibus queimados todos os dias nas grandes capitais do Sudeste. Na época, o fogo parecia ter sido contido, mas pelo que se percebe, ele apenas correu para o subsolo, e lá, cresce até que pensou estar forte o bastante para emergir e mostrar a sua fúria.
Primeiro o estado republicano (não posso apontar para um e chamar de Brasil) ocupou o território utilizando de toda a sua força bélica. Tudo com o intuito de combater velozmente os guerreiros da região, deixando o mínimo de vítimas civis no território (durante a operação, é claro). Estamos agora no período de pacificação, onde a população local começa a ganhar certo afeto pelos dominadores. Em seguida já se pretende colocar em prática o programa de redirecionamento cultural. Centros de recreação, centros de referência cultural para o jovem (como o que eu frequento na minha cidade) e escolas por toda a região.
Avançando mais no processo, pode-se ainda condicionar essa população para trabalhar em empregos de baixa remuneração. Explorando a mão de obra deles e aproveitando para ampliar o mercado consumidor. Analogamente aos operários de máquinas de tecelagem durante a revolução industrial da Inglaterra. Onde o operário gerava um lucro dobrado para os grandes empresários, pois além de trabalharem ganhando muito, o escasso salário servia para alimentar novamente os empresários, pois dependiam dos produtos industrializados para sobreviverem.
Ampliando a idéia da etapa citada acima, é a maneira mais comum de concentrar as riquezas nas mãos de poucos. Mantendo uma classe operária como rebanho extensivo, salários baixos, mas que dão condição a eles comprarem os produtos produzidos pelos próprios patrões. Conclusão, o dinheiro sai das mãos dos grandes empresários através dos salários, mas retorna com a venda dos produtos aos próprios operários.
Segundo parênteses: Como você imagina que a economia brasileira tem crescido nos últimos 4 anos? A mesada, chamada salário mínimo mais bolsa família estendida pelo governo lula, engrossou a classe econômica C que passou a ter mais poder de consumo, movimentando mais o mercado das indústrias e empresas brasileiras. Resultado? Mais dinheiro nas mãos de quem já tinha muito dinheiro, e salário mixuruca para os trabalhadores.
Eu citei o exemplo da chacina dos traficantes do Rio, como a pior solução possível na minha postagem sobre o TE2, pois já que fiz uma previsão certeira, eu deixo aqui o meu segundo aviso. Por mais que pense como certo ocupar as favelas, matar os traficantes e doutrinar essa população a tanto tempo oprimida, não se esqueça dos nativos que aqui viviam antes dos portugueses chegarem. Sim, justamente o primeiro exemplo que você pensou quando falei em colonização. Agora pense em todas as emoções que se expressaram na sua juventude rebelde, quando estudou sobre a exploração portuguesa em nossa terra. Pois o nosso estado está cometendo a mesma abominação. Concorde comigo ou não, a minha previsão é essa. De Brasil em Brasil, nós nos perdemos na nossa imensidão, pois te peço agora: “Brasil, me mostre a tua cara!”, pois não te reconheço mais.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Desculpe, não havia te visto

            Depois de muito minha irmã insistir, eu sai da frente do notebook para ir à padaria comprar o pão. Eu entro no estabelecimento e encontro dificuldade para ser atendido. Todas as atendentes pereciam ocupadas demais fazendo qualquer coisa que fosse, até que uma moça muito educada perguntou se poderia me ajudar. Eu pedi por dez pães doces. Ela olhou para a prateleira, havia apenas 13 pães. Então se voltou para mim e perguntou:
            _Se importa de eu ir pegar lá de dentro? – Perguntou, caridosa.
            _Por quê? Esses pães estão frios?
            _Não, é porque se eu pegar daqui, eu vou precisar repor mais depois.
            Eu abri um sorriso enorme e não pude evitar rir, aceitei o pedido dela, já que “pão de dentro” é sempre mais quente do que os da prateleira. Quando a moça voltou, eu agradeci educadamente.
            Uma vez tendo selecionado tudo o que desejava (todos os itens da “lista” riscados) eu me direcionei ao caixa. Tentei dizer “boa tarde”, fui ignorado. Agradeci a compra, ignorado novamente. Quando estava saindo da loja, dei uma última olhada para trás, e pude ver a moça que me atendeu, sorrindo, observando o fluxo dos clientes da loja. Apesar de jovem, apesar de ter todas as outras funcionárias mandando, desmandando nela, estava sorrindo.
            Muitas pessoas vão, vem e trombam de ombros com os nossos todos os dias. Mas nunca paramos para observar-las, nem mesmo olhar-las no rosto quando andamos na rua. Olhar alguém no olho já parece ter tomado o sinônimo de ser uma forma de afronta, é “encarar” como nossas mães bem nos alertaram:
            _Não encara as pessoas na rua, é feio!
            Depende da maneira que se “encara” a idéia de olhar alguém nos olhos. Já experimentou sorrir para as pessoas na rua, todas elas, sem exceção? Em uma situação normal, vão pensar que você está sobre efeito de alucinógenos e dos bem violentos. Se for um homem de idade e estiver sorrindo para moças mais novas, vão te delatar para a polícia e ter acusar de perversão.
As pessoas não estão acostumadas a serem bem tratadas por estranhos. Correção, as pessoas estão mal acostumadas a não serem bem tratadas por estranhos. Com toda essa violência, estupros, pedófilos, ladrões, criminosos de todas as categorias, parece que não se pode confiar em mais ninguém. Como se todos os que excedem o seu conhecimento fossem potenciais criminosos que vão clonar o seu cartão e roubar a sua filha para vender nos bordeis europeus de luxo.
É claro que não se pode confiar em qualquer pessoa, mas existe também um limite para a questão de desconfiança. Não se pode desejar depositar 50 mil reais em uma conta de banco da África do sul, porque você recebeu um e-mail sobre uma velhinha que sofre de malária e precisa do dinheiro para o tratamento. O exemplo foi nítido para provar que só não vê o perigo e a necessidade de desconfiança quem não quer.
Mas eu não estou aqui para falar de paquera, ou pedofilia, ou mesmo do senhor que passa o dia inteiro sentado no boteco e que assobia todas as noites para a sua namorada. Eu estou aqui para falar das pessoas que passam despercebidas aos nossos olhos, mas não por que passam por nós no dia-a-dia sem termos tempo de sequer enxergar elas. Eu vim falar sobre a atendente da padaria, que tão bem me tratou (não, não estou apaixonado). Quero falar sobre todas as pessoas a quem ela ira atender ainda hoje, que não iram agradecer-la ou sequer olhar-la no rosto.
Garis, faxineiros, atendentes de caixa de supermercado. Outro dia fui à minha cafeteria favorita perto da universidade, e levei alguns amigos meus. Cumprimentei todos os funcionários. Mas quando vieram atender a minha mesa, eu senti agonia. Meus amigos faziam os pedidos olhando para o cardápio, e mal agradeciam quando o pedido chegava. Mais tarde, eu conversei com eles, pedindo que da próxima vez, ao menos olhassem a pessoa no rosto enquanto falam.
Talvez por um bizarro senso de classificação social, as pessoas tendem a enxergar como inferiores as pessoas que trabalham para atender a outras. Fazendo serviços que supostamente exigiriam menos estudos ou dedicação intelectual do que outras profissões, como médicos ou advogados. Já ouvi histórias sobre um homem muito bem de vida que pronunciou em uma mesa de restaurante onde levara uma bela guria:
_Pra quê agradecer um garçom? Ele só está fazendo o trabalho dele, e é bem pago para isso!
Acabou que o seu encontro levantou da mesa e nem sequer despediu dele. Pois a ele eu faria outra pergunta. Você agradece a um médico quando este te ajuda a recuperar seu joelho após um longo tratamento? Você agradece o seu advogado quando este te ajuda a não ser extorquido durante um divórcio? Caso não, você é bem ingrato. Mas caso sim, por que não faz o mesmo com o garçom que tão bem te atende? Ou você prefere buscar o seu prato na cozinha do restaurante?
O trabalho dignifica o homem, e a mulher com certeza! Nunca julgue uma pessoa pela função que desempenha. Fazemos todos parte de um só grande organismo, e uma parte não funcionaria bem sem a outra. Sem mais delongas sobre as implicações econômicas da questão, faço um breve pedido a todos. Tratem bem as pessoas à sua volta, ainda mais quando reconhecer que o seu dia não seria o mesmo sem a presença destas. Que a moça da padaria possa continuar sorrindo, e trabalhando sempre na sua felicidade inabalável.

sábado, 20 de novembro de 2010

Fala que eu estou te vendo

           Pouco tempo depois de conseguir arrumar um emprego que lhe rendia dez salários mínimos, meu pai já estava bem instalado na área de centro de processamento de dados de uma das maiores mineradoras do Brasil, a Usiminas. Lendo artigos sobre programação, ele se deparou com um artigo sobre uma nova forma de programar, um modelo moderno para a época, e tentou trazer esse novo modelo para dentro de sua área de trabalho.
            Sofreu pesada resistência e preconceito. Imaginem um rapaz de vinte e poucos tentando ditar para homens que lá trabalhavam a mais de 15 anos qual a maneira que eles deveriam de trabalhar. Depois de reconhecida a superioridade da linguagem que ele estava tentando trazer, todos os funcionários foram obrigados a aprender o novo modelo, e dessa forma meu pai foi o responsável por uma revolução de inovação e maior eficiência dentro da empresa.
        O mundo gira. Dá largas voltas. Se você não acompanhar, você dança. Você dança? Bem, existem muitas maneiras de dançar. Muitas vezes a idéia de “dançar” é conotada como “se dar mal” ou “ficar de fora”. Mas na minha perspectiva, eu diria que quem fica de fora é quem não dança de acordo com a música. Quem se dá mal é quem dança fora do ritmo, é quem não acompanha a maneira como a “banda toca”.
            Mas nem sempre temos que seguir as regras, menos ainda quando discordamos delas. Temos que buscar inovar, questionar e evoluir desta maneira. Se nos deixarmos acomodar pelo mais usual e corriqueiro, logo estaremos estagnados e vazios. As pessoas precisam de movimento, precisam estar sempre em moção. Se não elas acabam ficando para trás, obsoletas e presas a ideias que não se encaixam nas mudanças do presente.
            Esta postagem é dedicada para um vídeo que eu assisti a pouco tempo quando procurava vídeos de Popping (assunto pelo qual pouco me interesso, sabe, só por diversão). O vídeo é do showcase dos juízes de um campeonato de popping. Os dois primeiros juízes dançaram ao som das boas e velhas popping tracks (músicas especificamente apropriadas para a dança), até que não dançaram mal. Já o terceiro juiz, usou uma música totalmente inusitada e fez o impossível em uma das apresentações mais espetaculares que já vi! Fazendo Tickings ao som de um piano, e depois acompanhando a melodia em um mix de FreakOut com ToyMan. O cara foi absolutamente brilhante, tudo porque decidiu agir da maneira mais não convencional dentro do universo tão polêmico do Popping (só acho que o meu Gliding é melhor que o dele, mas ninguém pode ser perfeito).
            Muitos Popper ditos tradicionais (não desejo citar nomes) criticam pesadamente dançarinos como Salah, ou Robert Murray, por estarem saindo do estilo. Ok, eles criticam com razão, eu concordo que trickers são diferentes de dançarinos. Por mais insanamente fodas que sejam os truques que esses caras fazem, eles ignoram completamente a batida. Eu acho que já estabeleci bem o que acontece com quem sai do ritmo, certo? Mas o caso nesse vídeo é completamente diferente, o cara dançou o bom e velho popping, mas utilizando uma música que nunca se esperaria ver em uma apresentação do gênero.





            Dedico essa postagem a todos que mantém em si acesas a chama da inspiração, e força de indagação. Continuem inovando e buscando novos horizontes, SEMPRE!

sábado, 13 de novembro de 2010

Oh rapaz, fecha as asas!

            Comecei com um simples exercício onde eu prendia a minha respiração por cinco segundos e depois esvaziava meus pulmões, repeti por cinco vezes. Depois voltei a respirar normalmente seguindo um exercício de meditação simples, me concentrando na minha respiração. Aos poucos senti meus braços se perderem entre o colchão e o lençol, minhas pernas seguiram no processo. Quando senti que estava próximo do estado desejado, comecei a expandir.
            Enviei energia para todos os lados, para amigos que a muito não via, para amigos que precisam de mim, mas eu não posso estar lá para ajudar-los. Meus braços começaram a expandir (sempre começa com os braços) até que o inesperado aconteceu. Eu senti uma onda de energia me atingir pelo estômago, e logo ela se espalhou por todo meu corpo. Era o estado que eu desejava alcançar, sentindo meu corpo cada vez menos, eu projetei uma corda no teto de meu quarto e então comecei a puxar a mesma na minha imaginação. Como resultado, eu senti a pressão da corda na palma de minhas mãos, meu coração começou a bater muito forte em meu peito. Sentia como se o meu corpo fosse oco, com exceção do meu coração, que batia pesadamente em meu peito.
            Como se não bastasse o esforço para controlar o meu coração, eu ainda sentia o músculo de meus braços tentando tencionar-se. Ainda que estivesse sentindo aos poucos minhas pernas se elevarem, como que desejando deixar meu corpo sem sucesso, e mesmo quase sentindo o meu torso abandonar meu corpo, eu forcei a minha saída do transe.
            Frustrado por mais uma noite, eu decidi que já passou da hora de escrever com seriedade sobre as minhas recentes experiências. Não, eu não desejo falar sobre viajem astral, eu desejo falar sobre um assunto demais intrigante mesmo para mim (intrigante para mim? Imagino para você!). Estou a falar em um assunto que envolve a teoria da reencarnação.
            Allan Kardec afirma em seus livros (falo isso por confiança no estudo de terceiros) que ao perguntar aos espíritos superiores a respeito do universo e a maneira que se organiza, os mesmos responderam que existe diversas dimensões carnais. Como na idéia de realidades paralelas, os espíritos transitam em encarnações em diferentes mundos, e cada mundo se encontra em um diferente patamar de evolução espiritual.
            Parte-se então da premissa de que é possível para seres de outros mundos encarnarem em nosso mundo, mas na forma de vida física de um humano, ainda não seja um humano. E como denominar seres de outros mundos encarnados como humanos no mundo em que vivemos? Trato agora sobre o assunto que não posso mais ignorar dentro do universo das minhas prosas, Otherkins.
            Pouco se fala ou se comenta sobre eles, os mesmos são muito reservados. Segue aqui, o trecho retirado de um fórum paranormal a respeito do assunto:

Otherkins: é uma sub-cultura de pessoas que se identificam como não-humanos.
As essências mais conhecidas são 10.
Anjos, Demônios, Dragões, Elfos, Fadas, Harpyas, Humanos, Licantropos, Ranianos e Vampiros.

(...)

Um otherkin é basicamente uma pessoa que não consegue se adaptar as características de sua espécie e se sente deslocado no meio da sociedade. Não existe tradução literal dessa palavra para português, mas a melhor definição seria "de outra parentela" ou "de outra espécie"

Muitas pessoas que se reconhecem como otherkin acham que têm origem em outros mundos ou dimensões (isto é, nasceram neste planeta com um corpo físico mas não sentem sua essência como sendo humana e sentem que vieram de outro tempo / dimensão).

Características básicas de um otherkin:

>O sentimento comum a todo otherkin é "Não sou daqui".
>Aparenta ser mais jovem (+ ou - 5 anos).
>Se sente mais espiritual e/ou mental do que material.
>é atraí do por algum tipo de droga; usa, já usou ou pensa em algum dia experimentar.
>Tem variações bruscas de humor, por exemplo, num momento você está feliz e no minuto seguinte está super deprimido, depois fica bem de novo em pouco tempo.
>é desligado (mas não alienado).
>Não suporta sentir frio e / ou calor excessivo, ou em outros casos tem grande resistência í temperaturas extremas.
>Quando viaja prefere visitar lugares que poucos visitam, de preferência estranhos e exóticos, e quanto mais longe melhor.
>Curte chuva.
>Geralmente tem nojo de carne, principalmente vermelha, e muitos são vegetarianos.
>As vezes sente vontade de fugir para um lugar que não sabe exatamente onde fica nem o que é.
>Alguns pensam as vezes que seria melhor morrer logo (mas não necessariamente se matar).
>Sente-se atraí do por cemitérios.
>Sempre acha que vai ser parado pela polícia na rua, mesmo que não tenha motivo nenhum pra isso!
>é interessado em ufologia, filosofia, astrologia, ocultismo, magia, viagem astral ou qualquer outra ciência do desconhecido.
>Não suporta violência de qualquer espécie, é raríssimo se envolver em luta física.
>Tem aversão a pessoas rudes e grosseiras.
>Quase sempre tem conflitos de relacionamento em casa, na escola e / ou no trabalho.
Se sente deslocado em reuniões de família.
>Não se adapta as características culturais vigentes da sua cidade / país, principalmente as mais populares.
>Tem inteligência acima da média, podendo chegar a genialidade na área onde atua.
>Tem mais facilidade de se relacionar com outros otherkin.
>é ligado em artes (música, cinema, arquitetura, design etc).
>Não gosta de trabalhar em empregos normais; odeia trabalhos braçais, robóticos e mecânicos.
>Não curte academias, ginástica, musculação, exercício físico sistemático.
>Curte visual próprio e estilo único, através de roupas diferentes, cabelos coloridos, dreads, tattoo, piercing etc. Otherkin tem pavor de caretice.


            As características apresentadas acima poderiam ser agregadas a algumas específicas tribos urbanas, como os dark ou os punk. Mas é necessário separar e evitar a confusão quando se fala sobre otherkins.
Quando se tem sintomas de estar com dengue, parte-se da hipótese de que o paciente pode estar contaminado com o vírus da dengue, mas também não invalida a idéia de que ele pode estar sofrendo de qualquer outra doença cujos sintomas ainda não se manifestaram na totalidade. Ou ainda, o paciente não tem qualquer doença nem contaminação alguma, está manifestando sintomas com causas supérfluas.
Analogamente, não é por que uma pessoa possuiu as características citadas acima que ela é necessariamente vista como um potencial otherkin. Os “sintomas” acima podem ter fundamentos psicológicos completamente diferentes da que daria fundamento para apontar-lo como um otherkin. Mas também não é por que possam existir outras explicações que a possibilidade de ela ser um otherkin é invalidada.
Mas o que significa ser um ser não humano no corpo de um humano? Primeiro, se tal hipótese é real, ela validaria ou pelo menos reafirmaria ainda mais a hipótese da reencarnação ser verdadeira. Pois é um pouco difícil imaginar alguém desenvolvendo uma essência não humana dentro de um corpo humano. É claro que essa essência poderia sofrer alterações ao longo do tempo, mas para esse caso, não seria possível classificar as diferentes “mutações” em grupos pré-organizados. Pois cada essência seria totalmente distinta das outras. Estamos aqui falando de pessoas que afirmam não terem nascido completamente humanas, mas que em um dado momento em suas vidas despertaram para a sua real natureza. Humanos em corpo físico, outra coisa em corpo astral. Sim, astral. A idéia é a de que quando você se projeta no plano astral, você pode finalmente ver a sua essência, pois o seu corpo astral se distingue do de qualquer humano natural em cor, e mesmo em forma.
Como sou bom estudioso, hoje montei um dos circuitos mais chatos e confusos que já conheci de perto (embora não seja grande coisa, e a idéia fosse “roubada” de outros). A coisa não funcionou bem da maneira que eu esperava (a luminosidade não era a mais apropriada). Confuso, porém ainda contente, eu me despedi de minha colega e fui andando para casa debaixo de uma chuva leve, mas ventando frio.
Como bom estudioso que sou pretendo me projetar no plano astral, e ver com meus próprios olhos o que já afirmaram para mim, mas eu preciso poder ver com meus próprios olhos. Quanto a aqueles que se interessarem em se projetarem também, eu desejo boa sorte e que não desanimem com as sucessivas falhas e fracassos. 


http://www.ceaec.org/    http://www.viagemastral.com/

terça-feira, 9 de novembro de 2010

SELO DO INFERNO!!!

Hoje quando acessei meu blog, lih os comentários de Ro-Sha, onde ele dizia que eu recebi um selo para o meu blog.


Com orgulho e consideração eu adiciono este selo em meu blog. Não é nada demais, mas mostra mais reconhecimento do que os comentários que eu nunca recebi em meus textos pelos visitantes ocasionais... (e que eu sei que visitam o blog.. ¬¬... isso foi uma direta!)

domingo, 7 de novembro de 2010

Odeio pijamas

            Foi mais uma noite daquelas. Sonho dentro de sonho dentro de outro sonho (totalmente ao estilo “A Origem”). É cansativo. Eu durmo quase 10h horas nas noites em que esses sonhos malucos me abatem.
Eu sonhei que estava tentando dormir, mas que uma entidade sinistra não desejava me deixar dormir. Eu acabei conseguindo dormir (dentro do sonho) entrando, portanto, dentro de outro sonho, mas fui arrebatado deste, por conta da entidade sinistra do sonho anterior. Voltando ao sonho original, eu passei um dia inteiro (dentro do sonho) tentando descobrir o que era que estava tentando me impedir de dormir.
Na noite seguinte (do sonho!) eu estava tentando dormir, mas a entidade não queria me permitir, perturbava o meu sono. Eu consegui dormir novamente e sonhar, mas novamente a entidade sinistra me acordou tenebrosamente.
Na terceira noite, eu descobri qual era o mistério por trás da entidade sinistra, e era uma questão de álgebra linear! Indignado e perplexo, eu acordo para o “mundo real”, e fico ainda alguns minutos na cama tentando encontrar outro vetor para encaixar no conjunto e compor uma base para a quarta dimensão.
A temática dos sonhos veio à tona nos meus pensamentos dentro das últimas semanas. Desejava estar agora tratando de outras temáticas para o meu blog, mas é que essa daqui não tem como mais adiar.
Muitos já tentaram interpretar-los. Freud pensou se tratar de desejos íntimos reprimidos. A neurociência dos tempos atuais diz tratar de conexões aleatórias de áreas do nosso cérebro que conscientemente não estão ligadas umas às outras. O que nos permite degustar um som, ou mesmo ouvir uma paisagem.
Eu pessoalmente prefiro dar uma interpretação deveras mais esotérica ou no mínimo espírita para a coisa. Nada se relaciona a religiões ou teísmos o que estou para dizer. Trata-se apenas de uma ciência pouco explorada, sem comprovação, mas que a meu ver não é descartável. Do contrário, merece ser avaliado com muito carinho e atenção.
Muitos descrevem coisas espírito e alma como propriedades inexploráveis pela ciência empírica. Talvez de fato o seja, mas eu vou tentar tratar da idéia no campo mais filosófico possível. Utilizemos uma terminologia diferente, vamos falar sobre a consciência.
Imagine que o mundo, o universo e a realidade são compostos por dois hiper-universos distintos um do outro. Um deles representa o plano físico, o outro o plano da abstração. O plano da abstração que vou tratar como o plano onde está a nossa consciência. Sendo então, os nossos corpos são meramente projeções do plano da nossa consciência dentro do plano físico. Para ajudar a visualizar, pense nos jogos de MMORPG. O mundo virtual desses jogos representaria o plano físico, e o mundo real onde vivemos representaria o plano da nossa consciência. Desta forma, o nosso avatar dentro do jogo é nada além da nossa projeção dentro do plano virtual do jogo. E esse dito plano virtual, é o espaço e o veículo que nós temos normalmente para interagirmos com as outras pessoas, por meio dos avatares das respectivas.
Dado a analogia, fica simples imaginar o plano virtual do jogo, como o plano físico da realidade, e o plano de vida do jogador, como o plano da consciência, o plano que se projeta sobre o outro, para permitir a interação entre as pessoas. Sim, o seu corpo físico é o seu avatar. A esse ponto, você pode muito bem chamar o seu consciente de alma, caso julgue necessário. Essa é a maneira com que eu interpreto a existência como um todo. Um plano se projetando sobre outro.
Mas para aqueles que devem estar pensando:
“Espere um momento. Nos jogos online, eu tenho uma vida dentro do jogo, por meio do meu personagem, ou avatar que seja. Mas eu também sigo com uma vida completamente diferente no mundo real. Mas se o mundo real é o plano da projeção, quando é que eu vivo a minha vida no plano da consciência?”
Espero que a essa altura você já tenha encontrado a resposta. É por meio dos sonhos que vivemos a nossa outra vida! Mesmo de maneira filosófica apenas, os sonhos compõem um universo totalmente paralelo à nossa realidade compartilhada. Dentro deles, podemos tomar a forma que desejarmos. Dentro dos sonhos, tudo o que compõem o nosso universo individual ganha vida, eles fazem parte do processo que nos ajuda a construir os nossos conceitos a respeito da realidade da “vida real”. Utilizo aspas, porque em minha opinião, os sonhos são mais reais do que a vida fora deles. Não pela veracidade, mas por nos mostrarem a verdade nua e crua a respeito da nossa existência. Não existe ordem absoluta no universo. Não existe nenhum arbitro regente coordenando os acontecimentos. Estamos todos jogados soltos dentro de nossas próprias subjetividades.
A maneira com que enxergamos o mundo tem mais influência do que imaginamos. Caso acreditemos que algo seja impossível, então nunca alcançaremos tal ideal. Caso todos acreditem que os problemas que nos envolvem são incorrigíveis e irreparáveis, como é que esperamos poder melhorar a realidade que nos cerca? Não basta sonhar com melhorias, precisamos acreditar nelas, assim como acreditamos estar fazendo coisas incríveis e impensáveis, quando não tomamos consciência de estarmos meramente sonhando.
Não podemos deixar nos abater e pensar que tudo a nossa volta está fadado ao fracasso. A realidade em que vivemos é uma mentira, nossos sonhos provam isso. Não me peça que acorde para a realidade, pois peço primeiro que olhe à sua volta e me responda: “Você se lembra de como veio parar aqui?”

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Quer Xupeta?

            “Mulher é bicho esquisito. Todo o mês sangra.”

            Nem sempre foi assim Rita Lee. Já houve um tempo em que as mulheres não menstruavam (ou pelo menos quase nunca). Na época em que os humanos compunham pequenos grupos de nômades, muito antes do desenvolvimento de qualquer forma de linguagem oral se não grunados e gritos. Copulando sem parar, todos os dias e noites, as mulheres não descansavam entre uma gravidez e outra. Portanto não menstruavam com frequência. Caso o fizessem, eram isoladas do grupo, pois a ocasião era interpretada como uma doença. Isoladas, essas mulheres comiam vários frutos e deixavam os caroços caírem no chão. Quando voltavam ao exílio por estarem “doentes”, percebiam que onde caíram as sementes haviam crescido plantas. E assim surgiu a agricultura. Mas esse não é o foco da minha prosa hoje. Estou aqui para falar de sexo!
            Há aproximadamente 1,5 bilhões de anos, quando o processo de abiogênese se fez completo, nossos oceanos compunham em totalidade um enorme caldo de proteínas e aminoácidos. Não se iluda com a imagem de minúsculos filamentos protéicos boiando serenamente com a correnteza. Eu estou falando de guerra! Era a feroz disputa por reproduzir-se. E quando não havia mais matéria-prima sobrando, o que restava era digerir os outros para continuar reproduzindo. Não se sabe descrever como, mas em algum ponto um conjunto de tiras de RNA foi revestido por uma malha de fosfolipídios. Por sorte (sorte?) surge a primeira célula.
            Desde o surgimento, os genes que hoje habitam suas células possuem apenas um propósito, reproduzir-se. A reprodução sexuada mostrou a sua vantagem em relação à assexuada. Pois permite que a seleção natural cumpra com o seu papel, selecionando aquele que estiver mais apto a perpetuar a espécie.
            Responsável por explicar 90% do comportamento humano, em grande parte a vida se resume na eterna busca por uma glande atritando uma vagina. Ou devo dizer pica na buceta? Que mal faz o palavreado? Não minta para mim, você pensa nisso absolutamente o tempo inteiro! Todas as nossas ações e comportamentos se justificam pela constante necessidade de agradar o sexo que nos atrai. Nossas roupas, a nossa dedicação no trabalho, nos estudos, no esporte e mesmo no lazer. As ações se justificam até mesmo pela inabilidade de conseguir sexo. Caso contrário, como explicar os jovens que passam dias na frente de um monitor jogando jogos eletrônicos? Faz mais de um ano ou dois que eu não perco mais tempo com esses joguinhos. Mas não escapo do grupo daqueles que fazem qualquer coisa para impressionar uma garota, mesmo abrir um blog e rechear-lo com os meus melhores textos. Não nego a expectativa que tenho de conquistar várias garotinhas fazendo-as pensar “ele é tão inteligente”.
            As pessoas que se deixam tomar por estes desejos tendem a conectar-se mais com sua natureza primitiva e natural (alô, ninfomaníacas!). Mas falar sobre natureza me faz pensar sobre o tempo em que as mulheres não menstruavam. Assim que o desejo sexual lhes era despertado elas já estavam transando, antes mesmo de menstruarem pela primeira vez (por vezes nunca menstruava a vida inteira, algo como 23 anos). Iniciava-se a vida sexual bem cedo, algo em torno dos dez a doze anos. Essa realidade não mudou muito ao longo dos milênios, e o casamento de homens de trinta anos com garotas de treze eram demais comuns até pelo menos quatro séculos atrás.
            Acontece que por conta de uma simples mudança de comportamento, o sexo se tornou um assunto proibido para crianças. Foi tudo muito estranho, boatos e teorias se misturam nessa história. Era costume dormir completamente nu. Mulheres costumavam dormir dividindo o mesmo quarto (dama de companhia). Mas algumas pessoas tinham vergonha de expor seus corpos, seja por conta de uma deformidade ou por uma doença de pele; e então se cobriam na hora de dormir usando alguma roupa leve – algo semelhante a uma camisola. Por macaquice (olhou e copiou) algumas pessoas aderiram à moda. Devido ao transito noturno de pessoas pela casa, as crianças facilmente tomavam a chance para distinguir as diferenças entre um pênis e uma vulva. Mas com as genitálias cobertas, ficava difícil diferenciar sexos, e mais ainda entender para que sirvam os genitais.
            Por consequência, os adultos passavam a ter vergonha de conversar com seus filhos a respeito de sexo. Surge então o esboço da infância, quando se torna necessária a distinção entre conteúdo adulto e conteúdo infantil. Separação nada saudável, ainda mais tomando em conta a facilidade de acesso ao conteúdo adulto que as crianças têm nos tempos atuais.
            No momento em que forçamos uma criança a se afastar da temática sexual, damos brecha para que ela busque esse conhecimento por conta própria. Sem orientação, essa criança pode acabar por construir conceitos demais equívocos sobre o sexo. Equívocos e erros que podem causar confusão e dúvida uma vez atingindo a adolescência. Levando a desvios de comportamento, depressão e complexos psicológicos.
            Ainda na temática do natural, pensar em como era normal crianças praticarem sexo me faz pensar em pedofilia. Há quem me diga que o termo surgiu no estudo do abuso sexual de pais para com as próprias crias. Mas em termos mais abrangentes, vamos tratar sobre marmanjos de quarenta anos que perseguem e em alguns casos se apaixonam por meninas de oito ou até seis anos de idade.
            Muito a se considerar e refletir quando pensamos e teorizamos a respeito da pedofilia. O que leva um homem a se sentir atraído por uma criança? Ainda sem mamas desenvolvidas, como podem doces e encantadoras criaturas seduzirem tantos marmanjos? Complicado. Distúrbios psicológicos, como os que são causados quando a temática sexual lhe é privada na infância? Ou talvez o natural é se sentir atraído por essas pequenas crianças? Como qualquer outro homem que nasceu e cresceu imerso na civilização ocidental, não consigo olhar para meninas do primário e enxergar algo além de anjinhos imaculáveis. Mas estariam nossos instintos inclinados para a perversão? É delicado proferir qualquer afirmação sobre o assunto.
            Pervertidos por natureza ou não, os monstros existem. Enquanto o amor pode nos inspirar a escrever os mais belos poemas, a luxúria pode nos consumir e destruir nossas vidas. Para o bem ou para o mau, todos esses sentimentos têm origem no mesmo princípio. Antes de sociais, somos animais sexuais, o resto é consequência. 

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Seleção Natural?

            Ainda que não na devida frequência, por vezes eu penso sobre meu futuro e meus sonhos. Já me imaginei um engenheiro renomado e admirado. Um verdadeiro criador de maravilhas inimagináveis. Casado, dois filhos, morando em uma casa a qual eu mesmo teria projetado, arquitetado e preenchido com minhas criações. Imaginava-me como um verdadeiro Tony Stark.
            Quando jovens, o nosso futuro parece uma promessa distante, quase inalcançável. Torna-se fácil fazer promessas de mudanças para o tempo em que nunca imaginamos chegar. Mas um dia o tempo cumpre o seu papel e nos força a decidir por qual caminho tomar. Será que fomos preparados para este momento? Será que estamos preparando os nossos jovens para escolher suas profissões?
            Estou no primeiro período de engenharia elétrica, e já fui responsabilizado pela criação de um carrinho que siga a luz por conta própria. Empolgado com o projeto, já o desenvolvi em completo na teoria, fiz os componentes funcionarem dentro da minha arbitrariedade, mas não terminei o protótipo. Entusiasmado como não estive em um bom tempo, eu pareço estar finalmente começando a fazer aquilo que sempre sonhei; fabricar robôs. Sempre tive para mim uma visão poética a respeito dos ditos cientistas malucos, enfurnados em um laboratório por semanas seguidas. Excêntricos, porém ainda assim admirados por todos.
            Quando criança, meu pai (engenheiro elétrico, por não coincidência) me comprou uma protoboard que tem o dobro do tamanho das usualmente encontradas (são duas unidas em uma). E me ensinou a brincar com letreiros digitais, daqueles que se escreve usando sete leds em forma de traço de maneira a compor um oito na sua totalidade. A partir deles, eu escrevia qualquer número, e até mesmo algumas letras. Uma vez preparados o enorme emaranhado de fios, eu apertava um botão e um número aparecia. Apertava o botão novamente e o número se apagava. Até mesmo alguns chips eu cheguei a utilizar. Eu tinha nove anos de idade.
            Aos dezesseis, a minha paixão por dispositivos eletrônicos retornou quando tive de desenvolver um solenóide para servir de campainha. Sem temer exageros, peguei um bastão de ferro de dois centímetros de grossura e vinte centímetros de comprimento. Enrolei nele algo em torno de um metro de fio de cobre de 0,9 milímetros. Era um belo de um imã, potente que só vendo.
            Ainda que bem determinado para prestar o vestibular, eu me sentia desmotivado pela dúvida. Duvida que só surgiu quando comecei a escrever meu primeiro livro. Duvida que cresceu durante o meu pré-vestibular, quando fiz muitas amizades com “pessoas de humanas”.
            Com um bocado maior de maturidade a respeito do assunto, hoje eu diria que não existe tal coisa como ser uma pessoa de exatas ou humanas ou biomédicas. Pessoas são pessoas, somos feitos de várias ideias, e não apenas de um conjunto limitado de ideias. As pessoas têm interesses diversos, desejos diversos, sonhos diversos. Não podemos julgar alguém de maneira tão categórica e dividida.
            O que me leva a pensar sobre a forma com que forçamos nossos jovens a escolher por qual caminho tomar, para qual face de sua personalidade ele deve dar maior valor. Mas será que estamos dando a esses jovens as ferramentas certas para escolher que caminho ele deseja seguir para o seu futuro?
            Quando penso sobre nossas escolas, me enojo. Não pelas recordações pessoais, estas estão quase que completamente bloqueadas de minha memória (por conta dos maus bocados que lá enfrentei). Penso sobre como o conceito de estudo parece ter sido totalmente deturpado. Estudar, nada se relaciona a encarar a nuca de crianças da mesma idade por quatro horas e meia enquanto se anseia pela hora de voltar para casa e jogar videogame. Voltando um pouco para as minhas memórias pessoais, meu ensino fundamental e médio se resumiu a isso, ansiedade e desespero; impaciência, angústia! Não há quem possa suportar pelas horas e horas de aulas enfadonhas e desinteressantes. Pelo contrário do que possa pensar, eu era um bom aluno, tirava notas boas. Mas tudo por conta da minha capacidade de engolir enormes amontoados de conhecimento, e vomitar-los em uma folha na qual estava escrito:

            “Lembra daqueles assuntos os quais lhe falei em minhas aulas, e os quais você sublinhou-os em seus livros? Despeja-os aqui, o máximo que puder lembrar.”

            Para depois me esquecer em 99%, tudo o que supostamente deveria ter aprendido. Mas ora, que há de aprendizado nisso? Estudo, o verdadeiro estudo, começa quando se deseja obter um determinado conhecimento, é quando se reconhece a necessidade de um conhecimento, e então você persegue esse conhecimento. O estudo vem da necessidade de resolver um problema, ou de compreender melhor sobre um assunto.
            Eu sou um estudioso, mas nunca estudei na escola. Estudo sobre o que me interessa, e quando se trata de aprendizado, conhecimento nunca me falta. Vou tratar o assunto agora de uma maneira demais cretina ou inusitada (no mínimo). Que dizer ou pensar sobre os “Gamers”? Quanta injustiça eu vejo, mães que vêem seus filhos o dia inteiro na frente do computador jogando “joguinhos” e ainda dizendo que seus filhos nunca estudam. É deveras cego quem faz tal afirmação, pois saiba que seus filhos são verdadeiros estudiosos, da classe dos mais dedicados o impossível!
            Eles sabem tudo! Absolutamente tudo a respeito dos games. Muitos deles se tornam especialistas na área. Verdadeiros doutores sobre o assunto. Escrevem artigos, publicam pesquisas, discutem em fóruns e até mesmo dedicam prêmios dignos de prêmios acadêmicos para os maiores conhecedores e estudiosos dedicados para a área.
            Antes que me julgue (ou os julgue) pense que conhecimento é conhecimento. Não se pode olhar para um ou outro e dizer quem é melhor. Mesmo revista de fofoca traz algum conhecimento, mas cabe a nós decidirmos qual conhecimento devamos buscar.
            O que volta à pergunta original. Como saber se estamos dando aos nossos jovens as ferramentas para buscar o conhecimento por conta própria? Talvez, se deixarmos de forçar tanto conhecimento goela à baixo, eles poderão ter maior espaço e liberdade para escolher por conta própria, basta que forneçamos recursos para eles. Não existe maior incentivo do que a liberdade de escolher por cumprir ou não cumprir com os nossos desejos. 

sábado, 30 de outubro de 2010

Nariz de Palhaço

            Qual é o reconhecimento que alguém recebe pelo trabalho realizado? Quem é que merece reconhecimento ou não?
            Bem estava eu a escrever algumas linhas forçadas durante a minha aula de Álgebra Linear. Sob o efeito de 300 ml de café com leite adquirido a troco de um real na cantina mais próxima do meu prédio, eu percebi que escrever é uma arte sem receita de bolo. Eu não posso pegar no lápis e chicotear os meus dedos ordenando-os:
            _Escreva alguma coisa legal e interessante!
             Sem o devido incentivo ninguém consegue escrever por escrever. Produzir sem propósito é o mesmo que soltar tiros contra o céu. Portanto, eu parei para refletir sobre a minha produção, e o que eu pretendo alcançar com ela.
            Ontem à noite eu recebi mensagens via Orkut de uma leitora o qual eu desconhecia até o momento em que fui contatado por ela. Ela veio me cobrando por mais postagens no meu blog. Lisonjeado, eu upei o primeiro texto que encontrei pendente em meu caderno. Mas passado o momento de euforia (Alguém andou lendo o meu blog!) eu me dei conta de como eu tenho sido demais negligente em relação aos meus objetivos e ideais.
            Ao som de Beirut, eu escrevo agora de dentro de uma cafeteria em frente à universidade federal do meu estado. Cafeterias são interessantes, elas parecem ter adquirido certo status de ambiente Cult. Pudera, pessoas com cabelos coloridos, alargadores e pircens parecem ter formado uma nova classe de intelectuais extrovertidos e descolados, os prováveis Geeks. Quando eu penso sobre qual é o perfil de leitores que eu teria em vista, eu penso na população dos cafés que eu conheço e frequento, pessoas ditas “alternativas”.
            Mas para onde ir a partir disso? Eu não sou exatamente um Stephen King da vida, que parece escrever livros no mesmo ritmo com que eu saio para beber com os meus amigos (no mínimo um livro novo por semana). Os jornais deveriam manter uma pequena coluna na edição de sábado dedicado exclusivamente para este cara na sessão cultural.
            _Olhe só, vão lançar um remake de branca de neve. Um grupo de teatro chegou ao nosso estado interpretando Capitu e Stephen King lançou um novo livro.
            Com um projeto de eletrônica e mais duas provas de cálculo e álgebra pela frente, é difícil pensar sobre temas interessantes para escrever. Eu estou no momento enfrentando o impasse de todo bom blogueiro, a falta de tempo disponível para se dedicar exclusivamente a escrever para o blog. Tudo bem que a maioria dos blogs que eu vejo fazendo sucesso consistem em mera reprodução de imagens engraçadas e ou reportagens com notícias absurdas. O gênero humorístico parece ter ganhado muita força nos últimos temos.
            Só me resta colocar um nariz de palhaço, talvez assim eu ganhe mais acessos. Eu vejo a maneira com que os comediantes parecem constituir uma classe privilegiada no meio intelectual. Pelo visto, não basta dizer coisas interessantes e verdadeiramente construtivas, você precisa ser engraçado enquanto o faz. Não vou mencionar nomes que eu gostaria de usar para ilustrar pessoas que são maus exemplos do que acabo de descrever. Do contrário, vou falar sobre dois dos meus comediantes favoritos (um recém adquirido). George Carlin e Billl Hicks. Em especial, Carlin foi considerado o mestre da contra-cultura, o boca suja. Ele é famoso por fazer pesadas críticas à religião de maneira lógica, inteligente e graciosamente hilária.
            Não faz mau querer chamar a atenção das pessoas para o que você deseja expressar utilizando do humor. O que não vale é deixar cair a qualidade do seu discurso em detrimento de fazer as pessoas rirem. Muito do que eu falo seria praticamente inconversível para uma lírica humorista. Não porque não se pode fazer humor com as minhas palavras, mas é que mesmo através do humor as pessoas não compreenderiam as minhas palavras. Eu confesso minha prosa não é exatamente a das mais simples e acessíveis para grandes e memoráveis audiências. A maioria absurda das pessoas a quem se apresentar esse texto irá cair no sono no primeiro parágrafo. Não é tanto culpa minha quanto eu posso dizer. É culpa minha se o brasileiro lê 0.8 livros por ano? Isso é claro, por que os que realmente lêem livros lêem muito mais, mas pagam nas estatísticas pela grande maioria que não lê livros.
            Então, com o objetivo de fazer de suas palavras um enorme sucesso, muitos humoristas apelam pelo uso de um pseudo senso crítico. Falam de tudo aquilo que as pessoas não dão tanto valor ou atenção no seu dia-a-dia, mas também não acrescentam nada de novo a ninguém.
            Voltando às minhas ideias e a minha produção, acho que finalmente alcancei um novo objetivo. Vou seguir o ideal de promover ideias que realmente carregam algum cunho crítico em seu discurso. Abrir os olhos das pessoas, e fazer-las enxergar uma realidade nova, uma realidade onde a opinião delas conta, e conta muito! Não se sintam piores ou diminuídos só por que ninguém dá bola para o que você tem para dizer (veja como eu não tenho público mas continuo a produzir). Seja quem deseja ser, mesmo que só para si mesmo. Mas não se deixe iludir com as mentiras que inventamos para nós mesmos para nos sentirmos melhores. O pior tipo de charlatão não é aquele que mente apenas para tirar vantagem dos outros, mas para se sentir melhor sobre a pessoa que ele é.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Neo, o Escolhido

Me assombro perante à imagem de um clássico Nerd. Corpo miúdo e flácido. Movimentos rápidos e precisos. Variadas habilidades manuais como desenhar e esculpir origamis infimamente detalhados. Até mesmo para dançar ele leva jeito, fato que estou colocando à prova.
            Sem dúvida o rapaz tem seus talentos, desde a veloz formulação de piadas infames, até o bom manuseio com equações diferenciáveis. Mas não são as coisas que enxergo nele que me espantam. Ele tem tantas ilimitações quanto eu. Meu susto é a respeito das coisas que ele não diz, mas eu percebo.
            Ele se parece mais comigo do que eu mesmo. Olhar para ele é como olhar para o meu interior. Pois nossas essências são equivalentes, porém ele o transparece com maior frequência.
            Não são pelas coisas que ele voluntariamente me mostra, mas pelo o que ele arbitrariamente decide por esconder, sem sucesso. Ele guarda a lupa no bolso, como o garoto paciente que é, enquanto observa a coluna de formigas transitarem pelo chão. Ao lado dele, eu bato a lupa no queixo balançando-a com a mão. Embora eu ainda não tenha queimado nenhuma formiga (por inteiro), minha indecisão perdura. Já ele, se mantém firme na posição de um mero expectador, que volta e meia solta um comentário:
            _Porque as pessoas escolhem por manter seus olhos vendados?
            _Elas encontraram uma parede espelhada e pensaram ter visto a luz de frente.
            _Sabendo disso, por que você ainda não virou a esquina e a encarou?
            _Meus olhos são sensíveis, se esqueceu, Anderson?

Post dedicado e um recém novo amigo que adquiri ao ingressar na faculdade.

domingo, 10 de outubro de 2010

Vinagre

   O dobro de sangue, o dobro de denúncias, o dobro de tudo! O filme, Tropa de Elite2, é em dobro exatamente tudo o que o seu precedente foi. Acabou por causar em mim, consequentemente, o dobro de reflexões. Gostaria, pois, de fazer algumas considerações a respeito dos assuntos abordados no filme.

   Sistema Carcerário e a Polícia:

   Para melhor entender as prisões e a importância da atuação da polícia, é preciso ter em mente alguns conceitos básicos a respeito do contrato social. Pela lei do livre arbítrio, todos nós somos livres para fazer o que bem entendermos, desde respeitemos a duas condições. Não podemos fazer nada que comprometa a liberdade de outro indivíduo, e também não podemos tomar atitudes que prejudiquem o bem comunitário de maneira direta ou não. A função da polícia é justamente restringir a liberdade das pessoas para que elas não descumpram com nenhuma dessas restrições.
   Por favor, não compreenda isso como algo negativo. Nós temos o direito de fazer nossas escolhas, desde que arquemos com as consequências de nossas atitudes. Muitos acham que é obrigação da polícia garantir a atuação da lei, mas essa na verdade é a função do sistema judiciário. A polícia é um órgão regulador das atitudes individuais dentro da sociedade. Ela foi criada para prevenir, combater e prender aqueles que não seguem as leis que foram constituídas respeitando as restrições do contrato social. E é justamente sobre as prisões que eu desejo dar maior enfoque. Falo agora da teoria do cárcere.
   O que fazer quando um indivíduo deliberadamente opta por não seguir as leis determinadas para o estado? Uma pessoa assume característica de um verdadeiro criminoso no momento em que ela conscientemente passar a cometer infrações por que discorda da lei. É quando o crime se torna uma iniquidade para o indivíduo. Cometer UM crime, não necessariamente o torna criminoso. Criminoso é aquele que sabe que está a ponto de infringir a lei, mas o faz sem hesitar. Quando um indivíduo assume tais características, a solução é isolar ele do meio social. É justamente esse o objetivo das prisões, isolarem o indivíduo, para que este não cometa mais crimes. E isso é parte do dever da polícia, uma vez que ela é responsável por evitar que o bem comum seja maculado. Para isso, nada melhor que evitando que criminosos circulem pelas nossas ruas, certo? Não teria tanta certeza, ainda mais considerando a nossa realidade.
   Vamos sair um bocado do campo teórico da coisa e tentar analisar a situação real da nossa polícia e das prisões do país. É difícil eu falar sobre a polícia sem mencionar as minhas más experiências com a mesma. Não, eu nunca fui preso ou levado para a delegacia. Eu estou falando de vezes em que pedi socorro a policiais, e os mesmo demonstraram total indiferença em relação aos problemas e situações por mim apresentados. Ineficaz e desinteressada são as características que eu atribuiria a polícia. Mas isso foi uma visão muito localizada a respeito da mesma (e pessoal também). Vamos tratar do assunto que parece ter ganhado o mesmo valor mítico dos filmes de Velho Oeste americanos, o combate ao tráfico de drogas:
   _Se existe droga é por que tem drogado.
   Muito interessante o seu ponto senhor presidente da república. Só mesmo o nosso representante da nação (diplomata de quinta) para proferir uma frase tão sem sentido como tal. Por acaso para haver drogas é necessário haver drogado primeiro? Para se consumir drogas, é necessária que a mesma seja fabricada. Mas quem é ingênuo a ponto de pensar que antes você precisa de mercado consumir para depois produzir a droga? O mercado consumidor é você quem cria! Um interessante exemplo é a maneira com que a Inglaterra conseguiu viciar ate mesmo o Imperador da China nas delirantes viagens provocadas pelo ópio. É simplesmente uma das maneiras mais brilhantes de se dominar e controlar uma população. Eu já falei muito aqui sobre técnicas de controle mental em massa, pois lhe apresento mais uma, narcóticos!
   O que acontece quando você junta favelas (pessoas muito humildes, ainda que na teoria) e traficantes de drogas bem armados? A resposta deveria estar na ponta da língua de todo intelectual de esquerda (mas não está) e é Estado Paralelo. As favelas dominadas pelos traficantes funcionam como um verdadeiro câncer na nossa sociedade, pelo simples fato de elas apresentarem um núcleo de estruturas completamente diferentes da nossa. Eles têm o próprio governo, sistema judiciário, militar, assistência social, polícia e até mesmo arrecadação de impostos. Facções disputam o poder de cada região quase que na mesma mecânica que partidos disputando cargos eleitorais. Tudo opera de maneira independente ao nosso sistema governamental. A única forma de atuação do nosso estado dentro do deles, é através das forças armadas. Isso não caracteriza para você uma intervenção militar como que feita em outro país?
   A discussão a respeito do combate de drogas, à minha maneira de ver, deveria focar mais a respeito de como encarar o problema e a situação desse estado paralelo. Para quem questiona a legitimidade do mesmo, eu vou dar um pequeno exemplo de outra polêmica que implícita uma discussão sobre ele.
   O gênero de música Funk é cultura ou não? Cuidado ao responder, você ao menos sabe o que é caracterizado como cultura? Toda e qualquer forma de manifestação que expressa algum valor a respeito de um povo, população, etnia, comunidade ou grupo. Você pode pensar que o Funk não te representa, mas ele representa a realidade do favelado. Sim, incluo aqui mesmo ainda (ou principalmente) todas as músicas que só implicam em incitações sexuais, pois é daquela maneira que eles vivem (vulgo, índices de gravidez na adolescência). Creio que pouco preciso comentar sobre o fato de ele ser amplamente consumido entre jovens e adolescentes de diversas classes econômicas e sociais.
   A interpretação de estarmos enfrentando uma segmentação do poder dentro do nosso país implica em algumas más conclusões. Uma vez que eles são um “câncer” na nossa sociedade, o que fazer com eles? A própria medicina parece não ter encontrado outra solução se não a eliminação do mesmo. Leia “eliminação” da maneira mais literal possível, eu estou falando de extermínio, matar todos os traficantes. Cárcere não é suficiente para lidar com o problema? Não, para esse caso, e para essa maneira de enxergar, não. Estude com mais cuidado a realidade das nossas prisões, e logo saberá responder por que o lugar desses indivíduos não pode ser a cadeia (afinal, foi lá que tudo começou). Mas seria um massacre indiscriminado de qualquer um portando armas em favelas a melhor maneira de lidar com essa situação? Garanto que para todos os casos é a pior, porém não pior do que tomar nenhuma atitude.
   Muito já falei a respeito, e volto a repetir. Uma das maneiras mais eficazes de tornar justificáveis quaisquer atitudes ditatoriais ou de suprema violência que venha a cometer é combatendo um falso inimigo. Para o brasileiro cidadão comum, a própria palavra “traficante” causa a mesma sensação de náusea e temor que a palavra “terrorista” para um norte americano. Fotos de homens vestindo mascaras e portando metralhadores são tão bombardeadas nos noticiários que qualquer um é capaz de fazer uma imagem perfeita de qualquer descrição que eu faça a respeito de um traficante. Mas não é só por conta disso. Diferente dos terroristas da Al-Qaeda, os traficantes são um problema real na nossa sociedade. Nós lidamos com eles diariamente, e sofremos diretamente as consequências por essa forte proximidade. Mas não devemos de confundir o conceito de um problema com a mitificação de um inimigo. O governo parece habilmente manipular a imagem do traficante para dar a ele proporções maiores, de maneira a ocultar a sua própria carga de culpa e mesmo responsabilidade para com essa realidade.

   Politicagem e a Imprensa:

   Antes, uma breve palavra sobre o dia da eleição. Deveras, nunca presenciei maior terror do que as ruas da minha cidade durante esse “festival da democracia”. As ruas estavam inundadas de panfletos por todos os cantos possíveis. E depois de terminada a apuração, foi mais atormentador do que o próprio carnaval. Carreatas, com direito a um “show” especial para comemorar a Eleição do governador do meu estado. Nunca senti o ódio da maneira que senti naquela noite.
   Nunca compreendi por que tanta disputa para se tornar um funcionário do estado. Na minha concepção, ser político consistia em trabalhar exclusivamente para o bem comum. Ingenuidade minha, não é mesmo? Claro, acontece que eu não estava analisando a situação que nós criamos para esses ditos “representantes do povo na máquina do governo”. Ninguém representa ninguém, e nem nunca mesmo esteve interessado com o bem estar social. Essa é a conclusão que chego hoje. Pois do contrário, como explicar tantas promessas e mudanças de coligações, partidos, comícios e os milhões gastos nas campanhas eleitorais? Cada um querendo defender o próprio interesse, garantir o próprio peixe, e pagando tudo com o dinheiro do estado.
   Você sabe quem é o Estado (ainda que apenas na teoria)? Nós somos o Estado! O Estado é a Nação, e o povo é a Nação Brasileira! Seguindo esse raciocínio, nós somos os patrões de todos os políticos, pois o dinheiro que paga o salário deles sai do nosso bolso. Afinal, eles não são Funcionários do Estado?
   É demais interessante a maneira com que a imprensa lida para falar sobre os problemas sociais. Violência, saúde, educação, desemprego. Sempre dando uma enorme ênfase à precária situação do nosso país. Quando é para expor algo negativo a respeito da política, todos são corruptos. Partindo dessa premissa, nós estamos todos na merda, e as únicas pessoas que têm poder para mudar a nossa situação são todas corruptas. Esse não parece ser um ponto de vista muito construtivo em minha opinião. Que tal se a imprensa se dedicasse a denunciar os problemas e posteriormente instruir a população sobre maneiras de exigir aos seus governantes atitudes para com a situação? Para quem pensou que para isso existe a eleição, eu peço que pense uma segunda vez. Se não houver uma maneira mais direta para que o cidadão comum interfira na realidade política, então nós definitivamente não estamos vivendo em uma democracia. Pesquisem sobre a Grécia e o surgimento da democracia, e logo entenderam que as eleições não passam de uma maneira de restringir e direcionar o poder das massas nas mãos de poucos.
   Não preciso falar muito mais a respeito de como os nossos políticos ajudam a sustentar o mesmo inimigo que tanto dizem combater. Para isso já está nos cinemas a continuação do filme que tratou tão bem a imagem do famoso BOPE. “Osso duro de roer”, tão duro, que só banhando em vinagre mesmo.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Teaser: Invisíveis:

Primeiro capítulo:


   Por quê? Por que tanto desespero? Por que tanta fraqueza? Já não havia mais tempo para essas perguntas. Ele já tinha tomado sua decisão:
  _ Hei!  Wolverine olha a fila cara!
   Sim, já não dava mais para voltar atrás. O primeiro protagonista desta história, cujo verdadeiro nome já não é mais de tanta relevância, será identificado apenas por Wolverine. É a maneira com que seus amigos o chamam e é a maneira com que ele é familiar a algumas pessoas na internet:
  _Você lembrou de trazer os ingressos?
  _Sim está aqui.
   Ele se encontra agora na fila de um show de “transe” com alguns amigos. Amigos? Seriam mesmo amigos dele? Eram só alguns caras que ele conheceu quando entrou na universidade a três meses. Mas o seu propósito ali naquela noite era outro, era algo muito diferente de apenas tentar se socializar como o de costume. Ele não tinha porque se preocupar com o fato do show ser em um local aberto e que isso iria atrapalhar a acústica. Embora não fosse uma música refinada, mas sim um bando de batidas misturadas com efeitos sonoros de todos os tipos. Sua vinda àquele show poderia ser um evento desencadeador de muitos outros que o sucederam. Mesmo que estes tais eventos aconteceriam com ou sem ele, havia ali um significado maior.
   Ele entra no show, dança e pula. Garotas se interessam por ele, mas tem de recusar, não poderia se prender a nada. Não ali. Não agora. Ao passo que teve a oportunidade, se afastou de seus colegas, e se dirigiu a um dos cantos das cercas em um local pré-determinado. Ele então pula o cercado e espera ao lado de um posto policial onde não havia ninguém dentro ou fora pelas redondezas. Faz frio. Ele começa a se perguntar novamente se ele havia tomado uma decisão certa, de vir até ali, de pular aquela cerca e abandonar seus colegas de classe para trás. Tanto porque sua vinda ali significava mais que abandonar seus colegas, as garotas e o show, ele estava virando as costas para tudo.
   Foi então que ele ouviu o barulho de rodas rolando de dentro do posto policial. Parecia vir bem lá de dentro, até que o barulho foi se aproximando e pula de lá dentro um homem em cima de uma cadeira com rodinhas. Como essas que se usa para mexer em computadores. O homem girou com a cadeira e então apoiou os pés sob dois dos cinco pés da cadeira, exercendo pressão o suficiente para que ela parasse lentamente. Ele é habilidoso:
  _ Gunter?
   Perplexo Wolverine não reconhece ou compreende a figura na sua frente. Ele usa uma calça jeans cheia de rasgas e desbotados. Uma blusa branca cavada, para deixar os músculos amostra. Têm o cabelo bem curto na cabeça, uma barba em torno do maxilar, um sorriso e um olhar desvairado:
  _ Ah sim! Wolverine não é mesmo?
   Silêncio:
  _Você pensou na minha proposta?
   Wolverine deu de ombros. Ainda está em estado de choque, tentando aceitar a imagem a sua frente. Gunter entorta os olhos para o lado pensando, “esse ai vai dar trabalho”:
  _O que foi? Ainda não se decidiu? Ou você só se concentrou ate agora em chegar ate aqui?
   Gunter estava tentando entrar na mente de sua presa, descobrir o que se passa lá dentro. Tentando se conectar com ele de alguma forma, pois ele já percebeu que sua aparência inspirou mais medo do que confiança. Eles pareciam o oposto. Gunter era desleixado, se vestia mal. Emanava um comportamento vândalo e perigoso. Wolverine por outro lado usava sempre uma calça jeans de grife. Um casaco de frio com pano leve e manga longa era o seu uniforme. Tinha um cabelo tamanho médio penteado para trás, estudava na universidade e não bebia com freqüência:
  _Bem, eu pensei sim, mas eu ainda tenho medo.
  _Medo? Você? As coisas que você me dizia é que inspiram medo. Alguém como você não tem que sentir medo, você tinha que provocar medo.
  _Se eu for com vocês, eu vou pod...
  _Voltar? Não. Uma vez conosco é ate a morte, e não existem meios termos. Não entendo Wolverine, porque você está na dúvida? Não é o que você sempre quis? Deixar tudo isso para trás, abandonar tudo e viver sem regras ou limite? Ser o seu próprio deus, viver a sua própria maneira? Não é isso o que você sempre sonhou?
   _Mas eu fico pensando sobre o que eu vou perder. A vida que eu poderia ter.
   Gunter sorri. Com dúvidas deste tipo ele sabia lidar:
   _Oh, então você quer saber sobre a vida que você poderia ter não é mesmo?
   Ele retoma em um tom mais grave, e passa a ter uma expressão estranha no rosto, uma expressão de prazer. Wolverine se assusta e passa a assumir uma expressão mista de espanto como quem está prestes a entrar em apuros:
   _Você vai se formar na universidade como engenheiro elétrico. Vai encontrar um bom emprego, daqueles em que você é bem pago. Você vai subir rápido na empresa, mas vai estacionar no cargo de chefe do centro de desenvolvimento de tecnologias de alguma empresa grande. Você vai se casar com uma garota, bonita, mas não estonteante. Eu posso ate dizer que ela é morena. Ela é bem cuidada. Garota de família. Se dependesse dela o sexo seria sem graça, mas você se empenharia para compensar essa debilitação. Você teria filhos, um garoto e uma garota. O garoto iria desistir de estudar para virar um surfista profissional. A garota terá uma banda de rock, mas ela iria seguir o bom exemplo do pai e cursar administração. Trabalharia também para alguma empresa de grande porte. Você envelheceria, se aposentaria e passaria a dar aulas de matemática para ensino médio em uma escola qualquer.
   Uma vida como essa seria para qualquer pessoa, uma vida a se invejar. Menos para Wolverine. Ele encara a história com repugnância e desprezo. Uma vida normal, como um mortal qualquer, não estava nos planos dele. Ele nasceu acreditando que veio ao mundo para ser grande, para ser alguém importante, um nome a ser lembrado nos livros de história. Ele quer dominar o mundo com sua mente e grandeza:
   _Muito bem, você descreveu a minha vida de casado e dentro do emprego, aliais, eu sempre me imaginei casando com uma loira. Mas e quanto ao mundo lá fora?
    _Ah, sim! O mundo lá fora. Nós já fomos grandes sabe Wolverine. Na época das grandes civilizações, na época das verdadeiras civilizações. Esparta com sua conduta rígida, onde se criavam homens de verdade. Atenas, a cidade dos filósofos. Japão e a sua bela cultura dos samurais, viver pela espada, morrer pela espada. Já houve grandes guerras, grandes mudanças, revoluções, democracia, socialismo, neoliberalismos e outros mais. Mas hoje nos vivemos em uma época ociosa, uma geração de garçons e secretárias. Nós somos meros figurantes no mundo. A história está sendo escrita pela caneta de porcos dentro de ternos, não mais pelos gritos dos jovens. Ensinaram-nos que o nosso objetivo era estudar, arrumar um emprego, casar, reproduzir, envelhecer e morrer sonhando com algum dia aparecer na televisão. Patético. Uma geração inteira dominada por uma caixa que emite luz. Desesperados e fracos. Nós nascemos para ser grandes, mas nos ensinam apenas a ser pequenos. Vamos continuar ciscando ate descobrirmos que podemos voar. Você sabe voar Wolverine?
   _Sim!
   Sem dúvida ele sabe, dá saltos que ninguém acredita, e no ar, gira como se tivesse atravessado o limite da luz e do tempo:
   _Mas enquanto ao deus deles?
   Eles se entreolharam por um tempo ate caírem na gargalhada. Voltaram a se olharem então com sorrisos esboçados nos rotos, ate que então Gunter deu o golpe final:
   _Eles enfeitaram o deus deles com coroas de ouro e diamante, palácios e tecidos egípcios. Tudo para não admitirem que na verdade eles adoram um carneiro de ouro!
   Foi naquele momento, bem ali, que Gunter penetrou no coração de Wolverine. E pôde ver então, a sua alma, a sua essência, o seu combustível:
   _Mas essas palavras não são minhas, são suas. Não é mesmo Wolverine?
   Não era preciso dizer mais nada. O mais difícil já tinha passado:
   _Então. Você vem?
   Wolverine o seguiu silenciosamente. Ate que avistou uma BMW e arregalou os olhos. Alguma coisa estava estranha, alguma coisa não condizia ali. Muito diferente do esperado o aparente vagabundo dirige uma BMW:
   _Está com o queixo no chão por quê? Não esperava encontrar um fusca não é?
   Na verdade, era exatamente isso que ele esperava:
   _Entra ai.
   No momento que abriu a porta traseira do carro, teve mais um motivo para se assustar e se maravilhar. Ela é linda de tirar o fôlego, morena e de corpo impecável:
   _Pocahontas?!
   _Vocês demoraram um bocado, mas não faz mal.
   Ela sorri de forma enigmática. Como foi dito antes, a vinda de Wolverine ao show de "transe" teve um significado muito maior do que o imaginável. Porém, inimaginável mesmo era o que esperava por Wolverine no momento que ele saísse daquele carro.


Mais tarde eu disponibilizo aqui um link para baixar o meu primeiro livro. Ele está sob revisão no momento.