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domingo, 1 de agosto de 2010

O Drogado e o Poeta

   Certa vez, um homem saiu da portaria de seu prédio e se deparou com uma passeata. A rua parecia ter sido dominada por pessoas vestindo vestes coloridas verde, vermelho e amarelo. Um jovem que passava distribuindo panfletos entregou um na mão do homem:
   _Com licença.
   _Pois não senhor?
   _Você sabe me dizer o que está acontecendo aqui?
   _Ah! Nós estamos fazendo uma passeata a favor das drogas.
   _A favor das drogas? Mas por que vocês apóiam as drogas?
   _Ora, se todo mundo usasse drogas, o mundo seria muito mais feliz. Eu te garanto que o senhor mesmo seria muito mais feliz!
   _E desde quando drogas trazem felicidade?
   _Desde sempre! O senhor já experimentou? Quer experimentar?
   O rapaz já estava se contorcendo para procurar alguma coisa no bolso traseiro de sua bermuda, quando o homem respondeu:
   _Sim, eu já experimentei.
   _Poxa! Então o senhor entende o que eu estou falando!
   _Não eu não entendo. Além de viciar, as drogas aceleram o envelhecimento e a perda de células nervosas.
   O rapaz encara o homem indiferente ao comentário do mesmo:
   _Além de te matar mais rápido, ela te deixa cada vez mais burro. Tudo isso se transforma em uma bola de neve se considerando que para alcançar o mesmo efeito, é necessário consumir cada vez mais e mais!
   _Eu tenho duas coisas para responder para o senhor. Primeira, a vida é curta! Segundo, a ignorância é uma benção! Eu prefiro viver pouco, mas viver intensamente. Do que viver muito e nunca ter vivido os maiores prazeres que existem!
  _Se você pensa que a vida é curta, por que deseja encurtar ela mais ainda? Quanto à ignorância, eu acho que o termo mais certo seria lesado. Se você prefere desligar o seu cérebro da realidade para poder alcançar a sua paz, por que você não o desliga usando uma pistola?
   Algumas pessoas acumularam ao lado dos dois, intrigados e curiosos com a discussão:
   _Se eu fizer isso eu vou morrer. Eu amo a vida demais para desejar a morte.
   _Não desejas a morte, mas adianta o seu caminho para ela? A vida é mortal, ou seja, ela tem um fim. As atividades que nos trazem prazer aqui na terra, são passageiras. Tudo aquilo que nos trás prazer, tem um tempo de duração, o qual quando expirado, nos obriga a procurarmos o objeto que nos trás prazer outra vez. No caso da droga, o tempo de prazer é justamente o tempo de duração do efeito da droga. E quando ao “procurar pelo objeto novamente”, você tem de comprar a droga da mão de bandidos e traficantes, ou mesmo os revendedores deles, os aviões. Talvez no futuro, como você bem parece desejar, poderá comprar drogas na padaria, ainda que isso não mude o resto da história. Pelo vício, chega a um ponto onde você não consegue fazer mais nada além de se drogar, você não trabalha, portanto não tem renda própria. Logo você passa a depender de outras pessoas para sustentar o seu vício. E quando todos lhe abandonam, você passa a ter de roubar para se drogar.
   A multidão em volta dos dois aumenta consideravelmente. As pessoas se reúnem para ouvir o sermão:
   _As pessoas não deveriam de procurar prazeres tão destrutivos. Vale mais aqueles prazeres que se procura, e se pode procurar de novo e de novo outra vez. E muitas vezes, é possível encontrar prazer até mesmo na busca pelo objeto de prazer. Pois você se sente feliz e esperançoso de estar procurando algo que você aprecia muito. Não existe prazer em procurar pelas drogas quando se é um viciado. O que existe é apenas o desespero da abstinência.
   O jovem ficou estático, mudo e com uma expressão de desamparo. O homem apoiou a mão em seu ombro e disse antes de se desviar para o seu caminho:
  _Morrer, todos nós vamos algum dia. Mas não é por isso que nós vamos encurtar as nossas vidas. Aceite a morte, e só então você passará a estar vivo de verdade.

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