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terça-feira, 31 de agosto de 2010

Cada um vê o que quer

   Eu sinto. Eu sinto tudo a minha volta. Tudo vibra. Não é uma simples questão de enxergar os objetos que me cercam, mas sim perceber-los. Eu consigo distinguir e diferenciar cada um deles individualmente.
   Tudo me parece tão mais real, agora que eu pude finalmente aceitar o fato de que todo o universo é meramente virtual. O que é existência? Qual é a nossa existência? Até que ponto a virtualidade é abstração ou realidade?
   Dentro dos muitos níveis e sub-níveis e ordens e estruturas e formações que compõem o nosso universo, é fácil se perder e se confundir. Mas existe um dogma ainda não assumido, o dogma da nossa existência.
   Albert Einstein nos no provou que toda matéria é energia. Mas se na física clássica, a energia se manifesta através da matéria realizando trabalho, então o que há de fato é energia se manifestando por meio de outra forma de manifestação de energia? Isso tudo pode parecer sem sentido ou ainda pleonástico, mas é justamente o que acontece. Somos energia pura, energia em cima de energia. Mas de onde veio toda essa energia? Bem, quem disse que ela precisa ter vindo de algum lugar? Existem provas de que houve algum momento onde não havia energia no universo, para se pensar que em algum momento ela foi criada?
   A teoria das supercordas nos abre fronteiras para perceber como o universo é integralmente composto por partículas-onda. Juntando com a tese de Einstein, concluímos que a existência é fundamentada pela manifestação de energia em forma de ondas.
   Juntando a teoria das supercordas, com a de Einstein e mais a teoria das dez dimensões físicas, podemos chegar a incríveis conclusões a respeito do espaço-tempo. Viagens temporais podem ser tão simples como proferir um pensamento. Eu diria que a própria lembrança de memórias antigas já lhe permite encontrar o passado. E imaginar o futuro já o coloca mais próximo do mesmo, ainda que esse futuro nunca venha a se realizar.
   Pode parecer confuso (perdi a conta de quantas vezes já disse isso) imaginar que as ditas leis que supostamente regem o nosso universo não são tão rígidas quanto parece. É possível torcer-las, ou ainda ignorar-las. Na física quântica, o observador tem influência sobre o resultado do evento que observa, assim como a nossa impressão sobre a realidade é capaz de alterar a mesma.
   A nossa realidade sofre influência da psique humana, isso já foi verificado e atestado diversas vezes por centros de pesquisas do campo da ciência noética. Exatamente pelo fato de tudo o que nos cerca não ser de fato tão sólido quanto imaginamos, é que nós podemos influenciar na maneira com que a matéria interage com ela mesma.
   Somos integralmente compostos por átomos. O átomo, por sua vez, é composto por elétrons que estão sujeitos à condição de se portarem hora como onda, hora como partícula. O núcleo atômico é formado por prótons e nêutrons (em uma versão mais simplificada da estruturação do átomo) que por suas vezes são constituídos de quarks, no caso do nêutron por um elétron também. Os quarks giram um com os outros em uma velocidade inestimável, e é justamente essa velocidade que proporciona propriedade de massa a esses quarks. Caso fosse possível retirar toda a energia cinética de giro dos quarks de um próton (por exemplo) o que seria possível observar é o total desaparecimento desses quarks, e do próton como um todo (princípio básico da fissão nuclear). Sendo então, novamente enfatizando, somos nada além de energia em manifestação, somos uma infinidade de ondas vibrando na décima dimensão. Para se encaixar com alguma comparação ainda dentro da nossa ilusão de consistência e solidez, somos tudo e todos mais leves do que o ar, e mais penetráveis que o mesmo.
   Por mais duro que seja tentar imaginar tudo isso, (nem me arrisco mais dizer que é confuso) considere que toda a existência está fundamentada em uma base extremamente volátil e instável, suscetível às perturbações que vierem de qualquer extremidade de sua estruturação. Só assim se poderá compreender, o quão suscetível a nossa realidade está para com a nossa percepção da mesma.
   Os seus pensamentos são capazes de mudar o mundo, ainda que não e um passe de mágica. Não deixe de pensar sobre isso quando tudo parecer tão duro e imutavelmente negativo à sua volta, pensar positivo pode fazer toda a diferença. 

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Ria, pois é a verdade.

   É chato parecer redundante, mas tem um assunto que eu gostaria de revisar antes de comentar sobre a lei que proíbe o humor político. (Sim! Não vou nem mesmo me dar o esforço de fazer uma introdução para o assunto):
Argumentum ad Hominem
1 - A pessoa X possui um argumento Y.
2 - A pessoa X possui algo ou é algo criticável.
3 - Portanto Y é falso.
   É uma das formas mais básicas de uma falácia, invalidar o que uma pessoa diz, invalidando a própria pessoa. O que é o humor, se não uma falácia? Expor uma pessoa, ou uma idéia ao ridículo, para nada mais serve senão para o empobrecimento intelectual e cultural de um debate. Experimente entrar em uma escola do nível fundamental e perguntar para um guri da quinta série:
   _O que você pensa do presidente Lula Pedrinho?
   _O Lula é um idiota!
   _Ora, mas por que você pensa assim? O que ele fez de errado no governo dele?
   _Eu não sei! Só sei que ele só faz besteira, e que todo mundo fala mal dele.
   Bem observado Pedrinho. Tanto se ocupa em ridicularizar a imagem de pessoas públicas com piadas e trocadilhos de todos os tipos, que acabamos por perder o foco das coisas que realmente deve ser levadas em consideração. Qual é o cenário político que encontramos hoje? Quais são as propostas dos candidatos? Por que tanta necessidade de se fazer humor com coisas tão sérias?
   Lutar pela liberdade de expressão? Tudo bem, por que não lutamos também pelo direito de fazer apologia às drogas, ao crime; o direito de chamar os negros de pretos macacos; o direito de dizer que o homossexual é um doente e que deve de ir para a cadeia; ou ainda o direito de reproduzir qualquer idéia falaciosa e agressiva? Direito de expressão, dá direito a muitas pessoas falarem muito sobre o que não devem. O direito de expressão acaba permitindo a imprensa de invadir a privacidade alheia, e expor idéias totalmente equívocas sobre coisas que não cabe a ela tratar sobre. Quantas vidas nós teremos de esperar ser destruídas por uma mídia tendenciosa, que tem o poder de condenar um inocente pela opinião popular? Você quer o direito de expressão? Então comece a medir melhor suas palavras, pois ela tem um forte poder de influência sobre qualquer pessoa. E é justamente essa influência que torna cabível a proibição do humor político.
   Eu posso ter usado o exemplo de uma criança. Mas quantos adultos e eleitores não têm o mesmo raciocínio de Pedrinho? De tanto reproduzir uma idéia deturpada, as pessoas perdem de vista o fundamento. O prejuízo do humor é também o fato de ele provocar risos em seus leitores. Quantas verdades, por mais que cruéis, não se tornam mais aceitáveis a partir do momento em que nos permitimos rir delas. Conformismo não rima com atitude! Qual é o problema de expor a realidade de e a suas idéias sem utilizar a ferramenta do humor? Se pensa que alguém foi ridículo em alguma atitude, então assim o diga:
   _A atitude do candidato foi ridícula!
   As consequências são para você enfrentar ou não. Não se esconda por trás da cortina de ferro da licença humorística. Quer expor idéias? Faça como eu, seja explícito, como eu bem farei agora!
   A verdade, é que eu não me importo. Votarei nulo. Não por que eu não conheça a proposta de nenhum candidato, pois eu conheço e reconheço até alguma que talvez me agrade. Mas é por que não faz sentido eu tomar partido em uma disputa que eu reprove por completo. Eu desaprovo o nosso regime político, e por isso não faz sentido eu me importar com as eleições.
   Maldito o dia em que derrubaram a Bastilha. Não que isso fosse algo ruim, ou ainda que o povo francês não tivesse motivo para se revoltar com o Rei Luís Dezesseis. Mas é sobre as consequências que eu me lamento. A revolução francesa acarretou no maior engano da história da humanidade: A “democracia social”. De democracia, o nosso regime não tem absolutamente nada!  Quantos dos eleitores tiveram a oportunidade de participar da votação da eleição dos candidatos apontados por cada partido? Repito aqui, a célebre frase:
“O poder de voto nada mais é do que o poder de escolher com qual tempero você será devorado.”
   De fato, que diferença faz? Estamos falando de um governo que não exerce nem mesmo 1% da sua capacidade administrativa. Você sabe o que foi o escândalo do mensalão?
   Tomamos um partido genérico A e um partido genérico B rivais entre si. Um dado dia, o partido A apresenta no plenário a proposta X. Como o partido B desgosta do partido A, apesar de considerar a proposta X muito boa, vota contra a proposta. Pela diferença de voto conseguida por influências nas coligações, a proposta X, ainda que muita boa, não consegue aprovação. Não passado uma semana, o partido B apresenta a proposta (X+0,75) – que nada mais é do que a proposta X com poucas coisas a mais. Indignados com o plágio feito pelo partido B, o partido A vota contra a proposta (X+0,75), pois não querem dar os créditos para o partido B. Sendo então, a proposta passa de mão em mão, e nunca é aprovada. Como solucionar esse problema? Simples, molhe a mão de todos os integrantes de todos os partidos com dinheiro público, sendo assim, todo mundo aprova qualquer coisa e todos vão dormir felizes. Todos vão dormir felizes? Pode ser meio difícil dormir com quinze pedaços de pizza pesando no estômago, você teria pesadelos tenebrosos. É chato, é incômodo pensar dessa maneira, mas o mensalão era uma mão na roda para tentar fazer a máquina administrativa funcionar. Essa máquina se tornou muito pesada, e ela pesa no ombro de todos nós, e mesmo nos ombros dos políticos.
   Eu poderia aqui continuar citando, diversos e diversos defeitos dessa grande ilusão chamada democracia e liberdade de expressão que muitas pessoas acreditam estar vivendo, mas eu prefiro concluir logo essa longa prosa voltando ao assunto principal. Por que se ocupar fazendo humor sobre coisa que deveríamos de encarar com uma seriedade maior? Quer provar o seu ponto? Quer ser ouvido e entendido? Mostre argumentos, levante a sua voz e fale, fale e fale!

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

A Magia dos Balões

   É a clássica cena hollywoodiana a respeito dos parques de diversões. A criança chora, esperneia, grita e não para até que o papai compre outro balão. O responsável pela criatura o faz com relutância. Pois sabe que é apenas questão de tempo, para que o balão escape das mãos do guri novamente.
   É a fantástica parábola da vida. A terra do estase e da adrenalina. Onde a sua alegria só dura o tanto quanto o seu dinheiro é capaz de rendar, ou seja, até a hora do parque fechar.
   É a fabulosa doutrina capital. Onde a sua felicidade é medida pela quantidade, e não pela qualidade. Carro, bicicleta, videogame, MP10, DVD, televisão, e três ingressos para o show de sua banda de axé favorita. Quanto do mais é melhor, não importa o que seja. Até livros podem entrar para a contabilidade. Ainda que você não os leia, eles fazem volume na prateleira.
   Mas eu não estou aqui para falar sobre livros, ou sobre carros ou sobre bandas de axé. Eu estou aqui para falar sobre balões! Não te aflijas menino! Não é mágica nem feitiçaria, mas pura aplicação das leis da física!
   O hélio dentro do balão é um gás mais leve do que o ar. Os gases mais pesados são constantemente puxados para baixo, permitindo destacar para o alto, as substâncias mais leves, como a que se encontra dentro do balão. É a maravilhosa lei da gravidade que condena muitos a cair, enquanto reserva a poucos o privilégio de ascender aos céus.
   Futebol, xadrez, pintura, aquelas aulas de ortografia japonesa ou mesmo um simples manual de origami. As crianças são incentivadas a desenvolverem seus lazeres, mas não são permitidas a tomarem tais como compromisso.
   Segurando-o por uma fita colorida, a criança observa o balão cintilar ao bel-prazer do vento. Mas chega o momento em que seus pais o pedem para soltar o balão. Pois chegou a sua hora de entrar na montanha russa. Montanha russa que geralmente recebe o nome de “vida adulta”.
   E então, abandonando seus sonhos e ambições infantis, a criança solta o balão. Embora ela saiba que nada a espera no brinquedo senão adrenalina, angústia e a incontrolável vontade de gritar, ela solta o balão. A verdade é que a criança gostaria de ser como o balão, livre para subir até os limites do céu.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

A Perfeita Inexistência

O mundo é transparente
Transparente feito o ar
É tudo mera especulação
Tudo energia em transformação

Andamos em linha reta
Porém não percebemos
Que nosso caminho se contorce
Nas dimensões superiores

O mundo é transparente
Transparente feito o ar
Caso queria me encontrar
Você terá de entrar
Junto, na minha vibração

O mundo está todo amarrado
Não se pode ver, é difícil perceber
Mas existem infinitas cordas
Ligando todas as coisas entre si

Ponto, reta, outra reta
Uma dobra, ponto outra vez
De ponto a ponto, sobrepomos o mundo
Por cima dele mesmo

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Iniciativa e Atitude na Arte.


O Teatro Mágico - Pena


O poeta pena
Quando cai o pano e o pano cai
Um sorriso por ingresso
Falta assunto, falta acesso
Talento traduzido em cédula
E a cédula tronco é cédula mãe solteira

O poeta pena
Quando cai o pano e o pano cai
Acordes em oferta
Cordel em promoção
A prosa presa em papel de bala
Música rara em liquidação

E quando o nó cegar
Deixa desatar em nós
Solta a prosa presa
Luz acesa
Lá se dorme um sol em mi menor

Eu sinto que sei que sou um tanto bem maior
Eu sinto que sei que sou um tanto bem maior

O palhaço pena
Quando cai o pano e o pano cai
A porcentagem e o verso
Rifa, tarifa e refrão
Talento provado em papel moeda
Poesia metamorfoseada em cifrão

O palhaço pena
Quando cai o pano e o pano cai
Meu museu em obras
Obras em leilão
Atalhos retalhos e sobras
A matemática da arte em papel de pão

E quando o nó cegar
Deixa desatar em nós
Solta a prosa presa
Luz acesa
Já se abre um sol em mi maior

Eu sinto que sei que sou um tanto bem maior
Eu sinto que sei que sou um tanto bem maior


   Eu conheci a pouco tempo esse grupo musical através de uma amiga minha. Um verdadeiro clamor pela liberdade artística e uma forte crítica à arte comercializada. De fato, nos deparamos com um gravíssimo problema na produção musical, literária e for justiça (ou não) todas as vertentes de expressão artística! A arte está sendo comercializada, e fabricada apenas com o propósito de consumo em massa. É uma verdadeira crise de criatividade e ausência de inovação.
   Por hora, eu de fato tenho poucos leitores no meu blog. Mas não tenho fortes esperanças de que essa realidade mude muito no futuro, pois reconheço que a minha produção não é da mais fácil de se vender.  Mas mais importante do que ser famoso e ter mil fans aos meus pés, é a sinceridade que eu tenho para com a minha expressão artística e intelectual. 
   Não escrevo por que desejo ser famoso com isso. Não escrevo por que espero ser reconhecido. Reconhecimento e fama são meras consequências dos meus esforços. Se houverem pessoas que ainda sabem dar valor a trabalhos da natureza dos meus textos, então que acho que só terei motivos para gratidão e felicidades.

Sobre o Homossexualismo

   Dentro os diversos assuntos que eu já abordei e ainda pretendo abordar neste blog, esse será sem dúvida o assunto o qual eu menos interessaria em falar sobre. Parece-me tão desnecessário e clichê. Mas infelizmente eu sinto necessidade de me expressar e me posicionar contra aqueles que têm proferido tantas falácias e cometido tantas injustiças a respeito dos homossexuais.
   Existem diversos tipos de características que servem para qualificar uma pessoa. Estilo musical, religião, orientação sexual, estado civil, classe econômica entre outras designações. Em uma sociedade teoricamente civilizada, as pessoas respeitariam umas as outras desconsiderando as diferenças. Essa atribuição está nitidamente bem longe da nossa realidade, mas é sem dúvida um modelo de conduta no qual deveríamos perseguir.


   Curiosamente, a perseguição acirrada em relação aos homossexuais não é exatamente uma característica retrógrada da nossa civilização, principalmente a ocidental. A homofobia é uma das invenções mais recentes em termos de conduta social. Pouco citarei exemplos, mas os gregos, em maioria, cultivavam hábitos homossexuais. É claro que a liberdade sexual era um privilégio dos homens, pois ainda estamos falando de uma sociedade machista.
   Pouco faz dez anos ou menos, e os homossexuais eram considerados como um objeto de ódio pela auto declarada maior parte da sociedade (descoberto posteriormente não ser tão maioria quanto se imaginou ser). Voltemos um pouco mais no tempo e talvez sejamos capazes de entender a tão recente fobia aos homossexuais.
   Década de 60. Movimento Hippie, movimento ambientalista. “American Way of Life” ou o famoso “American Dream”. Durante o período de Guerra Fria, surgiram movimentos que se opunham à guerra e mesma contra a ideologia consumista defendida pela indústria publicitária dos EUA. Dentro dos ditos bons valores sociais, estava inclusa a ideia de que o plano de vida de todo bom cidadão consistia em; concluir a faculdade, arrumar um emprego, casar, morara no subúrbio e ter filhos.
   No nado contrário a esse modelo se encontraram os Hippies, o movimento ambientalista, e o movimento homossexual. Os hippies se contrapunham a ideologia consumista do capitalismo. O movimento ambientalista se opunha ao desenvolvimento descontrolado da indústria e as possíveis más consequências desse desenvolvimento ao meio ambiente. De carona, os homossexuais se juntaram à causa desses dois grupos, pois eles afrontavam a instituição familiar.
   Nos dias de hoje, a realidade é diferente. Os homossexuais são aceitos pelos jovens como pessoas que possuem uma qualidade que os distinguem assim como qualquer outra característica como religião ou estilo musical. Quanto à aceitação dos pais a respeito e ter um filho gay, isso de fato é complicado e dificilmente será possível eliminar completamente o impacto inicial da notícia. A razão é muito simples, está nos nossos genes. Todo ser humano tem em seus genes a imposição biológica da reprodução. Difícil teorizar o que leva uma pessoa a ser homossexual, mas se considerarmos a genética como o fator de influência, seria necessário maior estudo a respeito do impulso natural de todos os seres vivos para reprodução. Mas parte da ditadura dos genes em relação a espécie ao organismo que ele pertence, está contida a necessidade de “passar os genes a diante”. Sendo então, os pais esperam, mesmo que inconscientemente, que seus filhos gerem uma prole, para passar os genes para frente. Caso o filho seja gay, a possibilidade desse filho se reproduzir é cotada para zero. No caso de um filho único a situação se agrava ainda mais, tornando teoricamente mais difícil a aceitação dos pais em relação à orientação dos filhos.
   Conclusão da história. Não se podem colocar os homossexuais como um grupo social que tem necessidade de lutar pelos seus direitos como uma minoria exigindo privilégios. A causa já foi ganha, por assim dizer, pelos menos para as futuras gerações. A luta foi árdua, sem sombra de dúvidas. Se ainda existe a vigente necessidade de ensinar o homossexualismo como algo não negativo nas escolas, é por conta se uma reação ressoante para com as décadas de repressão que eles sofreram no passado. Estão tentando aprovar uma lei para permitir maior liberdade de escolha em relação a sexualidade para os adolescentes, como uma maneira de prevenir as gerações futuras de passarem pelos mesmos abusos sofridos no passado.
   Para termos de esclarecimento, eu não sou homossexual, mas tenho vários amigos que são. Não sou simpatizante, pois para mim, não existe tal coisa como a necessidade de levantar a bandeira deles como seria necessário, por exemplo, para garantir os direitos dos paraplégicos. Para mim, o fim da picada, é ver pessoas utilizando o termo simpatizante para pessoas que tem amigos gays. Alguém aqui é simpatizante de obesos? Eu gostaria de ver campanhas sérias daqueles que julgam ofensivas piadas contra as loiras, vão processar os comediantes por conta disso?
   Eu infelizmente vejo a necessidade de produzir e postar esse texto a respeito desse assunto, para servir como atalho das minhas argumentações a respeito do assunto quando eu tiver que debater com algum homo-fóbico que ainda vive no século XX.

domingo, 1 de agosto de 2010

Traga-me

Traga-me o Gim
Traga-me o Rum
Traga-me o Vinho
Traga-me a Vodka

Ah! Que delícia!
Sensação melhor não há
Do que o primeiro gole da noite
Meu corpo treme, pelo todo arrepia
Desce queimando, queimando firme

Traga-me o Derby
Traga-me o Camel
Traga-me o Marlboro
Traga-me o Black

Trago forte o meu cigarro
Queimo-o até o talo
Expilo a fumaça contra o vento
Que a sopra para longe, bem longe de mim
E com ela, Vão-se todos os meus problemas

Traga-me a Morte
Traga-me um escrivão
Pois quero fazer o meu testamento
Em nome de João, ão, não
Em nome de Jozé, zé, ninguém
A minha herança fica para ninguém
Exceto claro, para a conta
Ou seja, para a dona do bar

Teoria dos Ciclos

   A cada momento nasce uma criança em algum lugar da terra. E para cada criança que nasce, todo o conhecimento sobre o mundo e a sociedade que a cercam, deverá ser retransmitido a esse novo indivíduo. Esse tal conhecimento diz respeito a nossos costumes, modo de vida e organização social. Quando se diz que as crianças são o futuro, está se dizendo que elas são quem darão perpetuidade à nossa sociedade. E a perpetuidade ou não dos nossos valores depende da eficácia com que eles são passados às futuras gerações.
   O estudo da história parece mostrar um certo padrão em relação às grandes civilizações. Elas têm um início, um desenvolvimento e um apogeu sucedido de um declínio. A teoria dos ciclos se propõe justamente a estudar essas etapas de existência dessas civilizações.
   Vamos tomar como exemplo o Império Romano. Ele se estendeu pela maior parte do Sul da Europa, Norte da África e o sudoeste da Ásia. Mas devido à crises políticas internas, ele se tornou vulnerável às invasões bárbaras. Sendo então despedaçado e trazendo à Europa um período de regresso em termos de organização política, social e econômica.
   Agora, você pode muito bem vir e apontar para mim dizendo, como um bom historiador:
   “Não se pode dizer que foi um regresso, mas sim uma transformação.”
   Paremos para analisar, então, essa transformação passo a passo. A organização política por exemplo. O Império Romano era centralizado e categoricamente dividido em províncias, possuindo um corpo de leis que vigorava por todo o território. Com a sua queda, apesar a existência de reis como Carlos Magno, nós tivemos a total fragmentação do poder e da constituição legislativa. Cada feudo possuía o seu próprio corpo de leis, fomos de um território imensamente vasto, possuindo uma única legislação, para ter dezenas de milhares de feudos cada um clamando por suas próprias leis.
   No campo econômico, sinceramente, pouco vou comentar. A substituição da moeda como forma de câmbio para a posse de terras. É claro que o comércio não cessou por completo, mas foi regredido para o escambo.
   Quanto ao social, nós já tínhamos escravos na nossa querida Roma, mas a servidão não trouxe qualquer avanço nas relações sociais. O servo poderia não ser propriedade direta dos senhores feudal, mas eles passaram a representarem a grande massa da população. Isso sem contar com a forte submissão e a lei que obrigava as servas a se deitarem com o senhor feudal antes de se casarem com outro servo. Eu diria que as relações de privilégio das classes superiores se agravaram ainda mais, novamente, sinalizando um regresso.
   Toda vez que uma civilização cai, e devido a sua queda, é posto o regresso sob a região de seu evento, caracteriza-se o fechamento de um ciclo e o início de outro.
   Acontece que atualmente o mundo se encontra organizado em uma enorme civilização denominada humanidade. Tudo isso graças à incrível globalização. E diferente de todos os outros pequenos ciclos, o ciclo dessa civilização pode ter o seu fim através da auto-depredação.
   Em nenhum outro momento pôde-se observar um desenvolvimento cultural e científico tão intenso como nos últimos vinte anos. Apontando, portanto, um perceptível apogeu de nossa civilização. Tem-se acirrado cada vez mais a disputa por recursos fósseis, eclodindo diversas guerras por toda a parte do planeta. Parece difícil ignorar a possibilidade de uma iminente terceira guerra mundial, e essa seria sem dúvida devastadora.
  Como se não bastasse a possibilidade da autodestruição, ainda temos o enorme prejuízo causado ao meio ambiente, que parece estar cada vez mais tornando o nosso planeta inabitável para nós e também para toda forma de vida existente na terra. Embora haja algumas controvérsias quanto a certas teorias como a do aquecimento global (vulgo o escândalo do Climategate, totalmente ignorado pela mídia brasileira), ainda temos o enorme prejuízo da poluição, do desmatamento e  do esgotamento dos recursos de matéria prima.
   Independente de que maneira, caso aconteça de fato o fechamento do ciclo em vigência, deverá haver o início de outro ciclo. Após sua destruição, a humanidade deverá trabalhar para reconstruir-se. No caso da autodestruição, eles tentaram ensinar as crianças a odiarem qualquer forma de violência, tentando evitar guerras futuras. Promoveriam também o regresso tecnológico, tentando ao máximo prevenir contra a fabricação de armas de destruição em massa. Mas seria apenas uma questão de tempo para que a nova civilização se desenvolvesse e desse inicio a outro ciclo. E assim sucessivamente. 

Jovem Rei

Reles neves
Leves Reis
Never Have I
Rules to obey


Glorificai os déspotas
Oh! Grandes mestres
Da farsa e da lábia
Da enganação e da Ilusão


Quatro anos e aqui estamos
Mais um ano de Eleição
Quatro anos e nós chegamos
No Mundial com a Seleção


País inteiro verde e amarelo
Clamando pela vitória, vencer é obrigação
Mas por qual vitória estais pedindo?
Queres o troféu ou a faixa no ombro?


Não te ilude jovem caro
Nada eis de receber
O troféu não poderá tocar
A faixa ficará para o rei


Não te ilude jovem caro
Nada eis de receber
Reles neves leves Reis
Never have I Rules to obey

O Padre e o Poeta

   Certa vez, um homem entrou em uma Igreja e se colocou a admirar a arquitetura do lugar sentado em um dos bancos. Sozinho, a princípio, admirava os vidrais; as imagens de madeira, os quadros e todos os minuciosos detalhes dos altares. Até que um padre veio ao encontro desse homem:
   _Olá, seja bem vindo à casa do senhor. Posso lhe ajudar em alguma coisa? Uma confissão talvez?
   _Olá, padre. Não se preocupe ou se incomode comigo, só estou aqui admirando a beleza do seu templo.
   _Mas esse templo não é meu, ele é a casa de deus. A mim nada pertence, tudo pertence ao senhor, até mesmo a minha vida e a minha alma.
   _Interessante maneira de se pensar. Mas me permite uma pergunta? Espere, uma não, algumas perguntas?
   _Claro que pode! Sinta-se a vontade.
   O homem observa o padre. Tão complacente e educado, partia o coração do homem:
   _Quem foi que construiu esse monumento?
   _Foram os homens que colonizaram essa terra. Eles fundaram essa igreja para a catequização dos nativos.
   _Interessante. Então foi pela mão de obra dos próprios nativos que essa igreja foi construída?
   _Sim.
   O padre sorria contente com o interesse do homem perante a ele:
   _E em sua opinião, a quem pertence uma obra? Ao autor da ideia ou ao a aquele que a fabrica? Temos grandes artistas ao longo da história. Pintores que pintavam à pedido de mecenas, ou seja, a pessoa que financiava mandava o pintor pintar o tema idealizado pelo mecenas, mas o autor da obra ainda era o pintor. Assim como na composição musical, muitas das músicas da maioria dos cantores comerciais são feitas por terceiros, mas ainda assim o cantor é quem leva o título da música com o seu nome.
   _O senhor está tentando dizer que essa igreja pertence aos nativos que a construíram?
   _Sim! Muito precisamente!
   _Mas quem deu a terra e o barro para ser construída essa Igreja foi deus.
   _Assim como os mecenas dão a tinta, o pincel e a tela para os pintores. Julgando pelo seu raciocínio, tudo o que nós produzimos pertence ao seu deus. Mas se produzirmos algo que profane a deus, esta obra também pertence ao mesmo?
   _Não! Tudo o que vem do homem tende ao erro. As invenções do homem não pertencem a deus. Apenas o que é de deus pertence a ele.
   _Mas se foi o homem que fez essa igreja, ainda que utilizado produtos fornecidos por deus, isso significa que esse templo não pertence a ele, ainda que seja feito para ele. E mais, eu compreendo por que você diz que o seu corpo pertence a ele, uma vez que toda a matéria do seu corpo proveio da terra e para ela retornará. Mas por que você diz que a sua alma pertence a ele?
   _Por que assim que eu morrer, a minha alma irá para o encontro da dele.
   _O que lhe dá tanta certeza?
   _A minha fé.
   O homem abriu a boca para responder, mas se calou por um instante. Arrependeu-se de ter começado aquela conversa:
   _Fé você diz?
   O homem se levante e se põe a andar para fora da igreja. O padre se ergue e grita de leve:
   _Quem caminha contra a palavra do senhor, caminho para longe da luz. Portanto caminha em direção às trevas e a condenação.
   _Por que me ameaça? Por que me pede que eu tema a morte? Não vês que tua fé lhe cega e lhe obriga a aceitar idéias absurdas em detrimento de uma promessa inatingível?
   _Todo homem é livre para decidir o seu caminho. Deus nos deu o livre arbítrio.
   _Dá liberdade para que eu possa escolher por não ter escolhas senão estar ao lado dele? Ninguém quer sofrer eternamente e para não correr o risco as pessoas se apegam às promessas que melhor lhe amparam. Por que se apoiar em idéias tão duvidosas?
   _Se não em deus, em que o senhor apóia a sua vida?
   _Na morte! Ela é o meu consolo, ela é a minha salvação. Eu posso não saber o que vem depois da morte, mas eu vou encarar o que quer que seja com o peito aberto, ainda que seja o fim da minha existência. Eu sinceramente desejo, algum dia, ser gratificado com o descanso eterno. O descanso eterno desse mundo!
   E então o homem saiu da igreja. O padre respira mais aliviado, ele nunca havia se deparado antes com um adorador da morte.

O Avarento e o Poeta

   Certa vez, um homem entrou em uma casa de penhores, ele portava consigo uma maleta de grandes proporções. Ele esperou na sala de espera, até que chegou o seu momento de tentar a sorte com o seu potencial comprador. Do outro lado da mesa, se encontrava um velho esquelético de cabelos mal penteados:
   _Boa tarde.
   _Boa tarde. O que o senhor trouxe ai com você?
   O homem colocou a maleta sobre a mesa, e a abriu revelando uma belíssima guitarra Fender.
   _Posso tocar?
   _É claro! Se você quiser levar, é preciso examinar não é mesmo?
   O velho faz uma perfeita analise primária na guitarra. Ele não entende absolutamente nada a respeito de instrumentos musicais, mas ainda assim finge interesse pela guitarra:
   _Quanto o senhor quer dar nela?
   _Olhando assim, não sei. Duzentos contos.
   _Duzentos?!? – o homem recua para trás temendo agredir o velho de tamanha indignação. – Essa guitarra é de primeira qualidade! Vale quinhentos reais no mínimo!
   _Olhe aqui, eu não entendo nada de música, e eu não me importo com qualquer história que você me venha contar sobre aventuras que você já teve com ela. O meu negócio aqui é comprar e vender!
   _Mas a preço de que?
   _Ao preço que ela vale de verdade horas bolas!
   _Você não entendeu a pergunta. A preço de quê você faz isso?
   _Como é? – o velho estava agora bem confuso, não sabia mais se era por conta do cheiro do ralo, ou se por conta do louco com quem defrontava fazendo perguntas misteriosas.
   _Eu sou muito curioso a respeito do seu trabalho. Você se apodera dos objetos de outras pessoas. Objetos, que muitas vezes, fazem parte do histórico de famílias e da própria vida de outras pessoas. E ainda assim você os vende posteriormente.
   _Quem mandou ser pobre? É nisso que dá não é? Depender do dinheiro dos outros.
   _E você então? Que depende do desespero dos outros?
   _Ei! Não coloque a culpa em mim! Eu ajudo as pessoas!
   _Você tira um objeto da posse de uma pessoa. Objeto tal que provavelmente era de um valor inestimável para essa pessoa, para depois passar ele para a mão de outra. Eu acho interessante esse seu teórico desapego material.
   _Olha, eu não tenho o dia inteiro para ficar filosofando aqui. Tem outras pessoas ali fora me esperando. É pegar os duzentos ou ir embora!
   _Quanto daquilo que você compra fica para você?
   _Nada disso aqui fica para mim. Dono eu só sou do meu dinheiro.
   _Vixe! É bem mais incrível do que eu imaginava! Você só fica com esse papel timbrado e os dígitos na tela do terminal dos bancos? Você sabia que o dinheiro de hoje em dia não é mais liquidável em ouro, mas sim em absolutamente nada? Interessante, o senhor não tem posse de absolutamente nada! Se você pedir o seu dinheiro no banco, eles só vão lhe entregar papéis, papéis sem o menor valor!
   _Já chega! Eu vou chamar o segurança!
   O velho estende a mão para o telefone, mas o homem alcança primeiro, impedindo o velho de tirar o telefone do gancho:
   _Você não precisa ter medo. Eu não desejo mal ao senhor, como eu já disse, eu me interesso muito pelo seu trabalho.
   O velho se recosta fundo em sua cadeira, pensando se ele consegue alcançar a saída antes do homem, ou se compensa mais tentar gritar pelo segurança, sendo que esse provavelmente está do lado de fora do prédio fumando:
   _Nesse mundo, nada nos pertence, nem mesmo os nossos corpos. Tudo o que compõe a matéria dos objetos e dos nossos corpos veio do solo e para o solo tudo retorna. Pois depois de mortos, não carregamos nenhum dos objetos que aqui temos depois da morte e também não levamos os nossos corpos. Viemos a esse mundo sem posse de nada, e nada do que aqui está seremos capaz de levar daqui conosco. Exceto claro, se nós viajarmos para o espaço, mas isso só estenderia o mesmo princípio da terra para o universo.
   _Trezentos! Eu dou trezentos nela!
   _Senhor, eu não estou interessado no seu dinheiro, mas sim no seu trabalho. Eu nunca tive a intenção de vendar um dos meus poucos bens que ainda tem valor para mim.
   Era pior do que o velho imaginava. O maluco não só quase o matou do coração quanto lhe fez perder um considerável tempo:
   _Se você não veio aqui para vender essa porcaria, por que você não sai logo daqui! Eu não quero ficar ouvindo essa baboseira de terra e solo e vida após a morte! Eu não acredito em deus e eu não estou interessado na sua religião.
   _Eu percebo que já o perturbei o suficiente.
   _O suficiente?! Então é isso é? Tudo o que você queria era me encher o saco? Pois fique sabendo que se eu quiser, eu compro o que eu quiser! Eu compro a cidade inteira! Eu compro o mundo inteiro só para mim.
   _ “Tudo posso, mas nem tudo me convêm.” Acontece que o senhor não deseja ter todas essas coisa, você mesmo disse que só é dono do seu dinheiro.
   O homem sai da sala, deixando o velho tremendamente perturbado. Trezentos parecia ser um preço justo, uma vez que ele pretendia vender por mais de mil reais.

O Drogado e o Poeta

   Certa vez, um homem saiu da portaria de seu prédio e se deparou com uma passeata. A rua parecia ter sido dominada por pessoas vestindo vestes coloridas verde, vermelho e amarelo. Um jovem que passava distribuindo panfletos entregou um na mão do homem:
   _Com licença.
   _Pois não senhor?
   _Você sabe me dizer o que está acontecendo aqui?
   _Ah! Nós estamos fazendo uma passeata a favor das drogas.
   _A favor das drogas? Mas por que vocês apóiam as drogas?
   _Ora, se todo mundo usasse drogas, o mundo seria muito mais feliz. Eu te garanto que o senhor mesmo seria muito mais feliz!
   _E desde quando drogas trazem felicidade?
   _Desde sempre! O senhor já experimentou? Quer experimentar?
   O rapaz já estava se contorcendo para procurar alguma coisa no bolso traseiro de sua bermuda, quando o homem respondeu:
   _Sim, eu já experimentei.
   _Poxa! Então o senhor entende o que eu estou falando!
   _Não eu não entendo. Além de viciar, as drogas aceleram o envelhecimento e a perda de células nervosas.
   O rapaz encara o homem indiferente ao comentário do mesmo:
   _Além de te matar mais rápido, ela te deixa cada vez mais burro. Tudo isso se transforma em uma bola de neve se considerando que para alcançar o mesmo efeito, é necessário consumir cada vez mais e mais!
   _Eu tenho duas coisas para responder para o senhor. Primeira, a vida é curta! Segundo, a ignorância é uma benção! Eu prefiro viver pouco, mas viver intensamente. Do que viver muito e nunca ter vivido os maiores prazeres que existem!
  _Se você pensa que a vida é curta, por que deseja encurtar ela mais ainda? Quanto à ignorância, eu acho que o termo mais certo seria lesado. Se você prefere desligar o seu cérebro da realidade para poder alcançar a sua paz, por que você não o desliga usando uma pistola?
   Algumas pessoas acumularam ao lado dos dois, intrigados e curiosos com a discussão:
   _Se eu fizer isso eu vou morrer. Eu amo a vida demais para desejar a morte.
   _Não desejas a morte, mas adianta o seu caminho para ela? A vida é mortal, ou seja, ela tem um fim. As atividades que nos trazem prazer aqui na terra, são passageiras. Tudo aquilo que nos trás prazer, tem um tempo de duração, o qual quando expirado, nos obriga a procurarmos o objeto que nos trás prazer outra vez. No caso da droga, o tempo de prazer é justamente o tempo de duração do efeito da droga. E quando ao “procurar pelo objeto novamente”, você tem de comprar a droga da mão de bandidos e traficantes, ou mesmo os revendedores deles, os aviões. Talvez no futuro, como você bem parece desejar, poderá comprar drogas na padaria, ainda que isso não mude o resto da história. Pelo vício, chega a um ponto onde você não consegue fazer mais nada além de se drogar, você não trabalha, portanto não tem renda própria. Logo você passa a depender de outras pessoas para sustentar o seu vício. E quando todos lhe abandonam, você passa a ter de roubar para se drogar.
   A multidão em volta dos dois aumenta consideravelmente. As pessoas se reúnem para ouvir o sermão:
   _As pessoas não deveriam de procurar prazeres tão destrutivos. Vale mais aqueles prazeres que se procura, e se pode procurar de novo e de novo outra vez. E muitas vezes, é possível encontrar prazer até mesmo na busca pelo objeto de prazer. Pois você se sente feliz e esperançoso de estar procurando algo que você aprecia muito. Não existe prazer em procurar pelas drogas quando se é um viciado. O que existe é apenas o desespero da abstinência.
   O jovem ficou estático, mudo e com uma expressão de desamparo. O homem apoiou a mão em seu ombro e disse antes de se desviar para o seu caminho:
  _Morrer, todos nós vamos algum dia. Mas não é por isso que nós vamos encurtar as nossas vidas. Aceite a morte, e só então você passará a estar vivo de verdade.

O Relojoeiro e o Poeta

   Certa vez, um homem entrou em uma loja de relógios. A loja estava vazia, com exceção do dono da loja:
   _Em quê posso lhe ajudar senhor?
   _Eu procuro um relógio para comprar.
   Para a sorte do vendedor, o homem buscava um relógio. Pois imagine o quão trágico seria se este homem tivesse dito que queria um sapato? A loja estava à beira da falência. Nesses tempos modernos, as pessoas não querem possuir um objeto que só serve para marcar as horas? Não havia mais espaço para os relógios dentro do mundo do multifuncional:
   _Que tipo de relógio o senhor deseja? Você já tem algum modelo em mente?
   _Eu estive pensando em um relógio de pulso.
   _Metal ou plástico?
   _Metal. Metal é frio, plástico me irrita.
   _Veja, eu tenho aqui alguns de prata, eles são muito luxuosos.
   O homem os examina com certa frieza:
   _E também tenho algo que possa lhe interessar mais.
   E então ele mostra um belíssimo relógio de ouro. O homem examina apenas com os olhos:
   _Veja, eu não faço questão de que ele seja de ouro ou prata. Para mim, são apenas materiais diferentes. Por mim, ele poderia ser de latão.
   _Mas senhor, um relógio de ouro é muito mais elegante!
   _Eu prefiro um relógio como esse aqui.
   O homem pega um relógio feito de um material genérico qualquer:
  _Esse relógio é muito frágil, senhor. Não dura muito tempo. Diferente do relógio de ouro, que dura por gerações e gerações!
   _Mas é justamente esse o problema dele.
   _Desculpe, o que o senhor disse?
   _O relógio de ouro é infiel. Depois que eu morrer ele pode ser passado para outro dono. E depois que esse novo dono morrer também, para mais outros e outros mais. Por que eu deveria me apegar a algo que durará mais tempo do que eu? Como uma mulher infiel, o relógio de ouro não hesita em se apegar ao novo dono.
   O vendedor perdeu todo o entusiasmo da venda. Ele estava passando por dificuldade e o relógio de ouro era bem mais caro que o relógio que o cliente mostrou interesse:
   _Já esse relógio de lata, ele durará tanto quanto eu. Como o tempo, ele pode enferrujar. Com o tempo, ele pode apresentar defeitos, e até mesmo começar a falhar. Até o dia em que ele irá parar de funcionar. Assim como eu também sofrerei efeito do tempo, irei envelhecer e adoecer.
   _Por que o senhor se importa tanto com um relógio, a ponto de pensar sobre qual será o destino dele depois que o senhor morrer?
   _Porque eu não quero me apegar a uma coisa que não é tão mortal e perecível quanto eu. Eu não entendo porque as pessoas se apegam tanto a coisas ditas eternas ou imortais. Por que se dedicar a adorar uma coisa que não pode retornar a sua devoção? Aos olhos dos imortais, somos nada mais do que ondas que passam e se perdem no tempo. Qual seria o sentido de se apegar a coisas passageiras, se é você quem vai ter de passar o resto da eternidade sofrendo com a perda?
   _Entendo.
   _Eu vou levar este daqui mesmo.
   _Tudo bem, eu vou empacotar.
   Quando o homem saiu da loja, apenas um pensamento pareceu sensato para o vendedor. Ele havia encontrado o único homem que realmente sabia escolher um relógio.

A Puta e o Poeta

   Certa vez, um homem decidiu sair de casa e sentar no banco da praça em frente a sua casa. Ele selecionou meticulosamente qual seria o banco o qual ele sentou. Ele não levou nenhum dinheiro consigo. Eram duas horas da manhã.
   Não tão distante dele, uma mulher o observava. Ela percebeu que ele andou lento, até sentar no banco. O homem estava apenas sentado olhando para o nada. Nem mesmo um maço de cigarros ele puxou do bolso, ainda que ele tivesse um, pois ele tinha.
   Então essa mulher resolveu se aproximar dele. Nenhum homem anda, por aquelas ruas de madrugada, sem propósito. Então ela se separou do seu grupo de colegas e foi para o encontro daquele homem:
   _Oi meu bem. Procurando alguma coisa?
   _Não. – responde seco, o homem.
   _Então o que te trouxe para tão perto do meu escritório?
   _Ora, que te faz pensar que eu tenho qualquer intenção? Um homem não é livre para andar por onde deseja?
   A mulher conhece homens daquele tipo, ou pelo menos pensa assim. Chegam de mansinho, como quem não quer nada. Mas na verdade são os mais desesperados e necessitados ao tipo de serviço que ela oferece:
   _Sim. Um homem é livre para fazer tudo o que tem vontade. Mas nada do que alguém faz é por acaso, tudo tem um motivo.
   _A praça é um lugar livre, para pessoas irem e virem. Crianças brincam na areia, namorados se beijam e se amam apoiados nas árvores. A praça é livre. Mesmo para um homem que se dispõe a admirar a sua beleza enquanto pensa em seu amor não correspondido. A noite faz tudo ficar quieto, como se estivesse sem vida.
   A esse ponto, a mulher já estava sentada ao lado do homem que fala sobre coisas curiosas e empolgantes, mas ao mesmo tempo, perturbadoras. A essa altura ela já está envolta demais na conversa, e esqueceu-se do trabalho:
   _Nossa! Que lindo! Você é um poeta?
   _Sim.
   _Pelo visto é um poeta que fala sobre o amor. – o trabalho voltou à consciência.
   _Não. Sou um poeta da morte. Mas eu também não deixo de falar sobre o amor.
   _Credo! Como você gosta de falar sobre a morte? E como você pode pensar sobre o amor, falando sobre a morte?
   _O amor pertence aos mortais. Todas as criaturas que um dia morrerão, são capazes de amar. Pois para amar alguém, você tem que saber que a sua presença ao lado daquela pessoa não durará para sempre. Portanto você precisa desfrutar de tudo o que pode da vida antes que ela chegue ao fim. O amor é mortal, ele perece, e por isso nós sentimos necessidade de amar.
   _Não entendi. Qual é o sentido de amar, se você sabe que um dia vai acabar?
   _Porque do contrário, você estará deixando de aproveitar aquilo que existe de mais belo e intenso na sua vida. O amor. Por isso amar é importante. Quem nasce e morre sem nunca ter amado, deixou de viver por completo, pois deixou de viver a única coisa capaz de dar sentido à sua existência.
   _Poxa, mas a vida pode ter sentido, mesmo sem nunca ter amado.
   _E que outra coisa terrena, perecível e palpável seria capaz de dar sentido à vida de alguém, mais do que o amor?
   _Deus?
   _Deus é imortal, é imutável. Deus não morre e nem acaba. Nada que é imortal pode ser capaz de amar, pois o amor surge junto com o medo da morte. As pessoas sabem que elas vão morrer, e por isso elas procuram amar. Como pode algo imortal ser capaz de amar se ele não tiver a morte à sua espreita? Deus não está no conjunto das coisas terrenas, perecíveis e palpáveis.
   _O amor não é palpável! Você não toca nele!
   _Você nem sempre precisa ver ou tocar em alguma coisa para saber que ela existe. Basta sentir.
   O Homem pegou a mão da mulher e pressionou contra o próprio peito:
   _Você pode sentir que o amor de outras maneiras.
   Ele soltou a mão da mulher. Extasiada, ela respondeu:
   _Eu não tenho medo da morte.
   _Mas você já aceitou ela?
   _Eu não penso nela.
   _Como não? Você pensa que vai viver para sempre? Não se preocupa com o que vem depois?
   _Eu já disse que não penso nela.
   A mulher olha para baixo. Triste. As sobrancelhas estão tensas e ela parece estar distante nos pensamentos:
   _Você já amou alguém?
   A mulher sorriu e se voltou para o homem. Ela não percebeu, mas ele já com as cochas sobrepostas às dela. Não se sabe precisar quem se aproximou de quem, ou mesmo se foi uma coisa mútua:
   _Como poderia? Não posso me prender, tenho que viver como passarinho solto.
   _O amor nunca faz prisioneiros.
   _Mas eu sou obrigada a viver assim!
   _Mas quem te obrigou a viver assim? O mundo? As outras pessoas? Ou você escolheu isso para si mesma?
   A mulher era jovem. Tinha cabelo moreno com algumas mechas ruivas que eram mais claras no alto, e mais escuras enquanto desciam. Formando uma cascata de tons, desde o rosa até o vinho. Tinha as cochas abastardas e o busto firme. Ela estava no ponto ótimo de sua juventude. Um dia a mais ou um dia a menos, e ela já não seria mais tudo o que ela podia ser naquela noite, em especial. Naquela noite, em especial:
   _Que escolha eu tinha?
   _A de não viver da maneira que você vive.
   _Mas eu não tinha escolha! Você não entende! As coisas não são tão simples!
   A mulher apóia a sua cabeça no ombro do homem. Ela soluça baixo, mas não deixa cair lágrimas. Naquela noite, em especial, ela não podia deixar as lágrimas estragarem a sua maquiagem:
   _Todas as pessoas são livres para fazer o que querem. De irem para onde querem ir. Esqueceu-se do que eu disse agora a pouco?
   _Eu sei! Mas é por que...
   Ela afundou mais ainda o rosto no peito do homem. E então este pode sentir os peitos da jovem começar a roçar a sua barriga. Então ele envolveu seu braço pelas costas dela, até que a sua mão pousou ao lado do quadril da moça:
   _Nós podemos ser qualquer coisa que quisermos, basta sabermos amar.
   A jovem ergueu a sua cabeça e trouxe o seu rosto para bem próximo do homem. Ela não estava mais triste, mas sua expressão demonstrava apenas a inocência de quem busca o saber:
   _Você pode me ensinar a amar?
   O Poeta segurou o queixo da moça pela ponta dos dedos e a deu um beijo nela. Um beijo leve. Ele deu preferência ao lábio inferior. Levando o lábio ainda flácido até a boca da jovem, até que ele contraiu-os em formato de bico, de maneira a massagear o lábio de quem ele beija:
   _Faço tudo por ti. Meu amor!

Apresentação

   Os registros mais antigos de pinturas rupestres, que marcam o início do desenvolvimento da linguagem e expressão arqueologicamente datáveis, são de mais de 42mil anos atrás. A linguagem dos sumérios foi provavelmente a primeira forma de linguagem que traduzia fonemas audíveis na linguagem de símbolos.
   Em 1850, é observado o surgimento da prensa como forma de reproduzir a produção textual em larga escala. Sendo então, não foi mais necessário reproduzir os livros pelo trabalho de escrivães. Foi, pois, possível expandir o desenvolvimento intelectual para além das fronteiras do tempo que era necessário para transcrever um livro. Com o passar dos anos, muitos livros foram traduzidos para diversas outras línguas, e a troca de conhecimento e cultura entre os povos se intensificou rapidamente.
   Passados outros descobrimentos, outros veículos de comunicação começaram a tomar destaque. Tivemos o surgimento do rádio e mais tarde da televisão. Com o rádio, a oralidade fática ganhou o seu devido valor. Entre o rádio e a televisão, tivemos grandes mestres da linguagem visual dando o máximo de seus desempenhos no cinema mudo. E com a fusão, entre a linguagem visual e audível, tivemos ascensão da televisão como principal meio de influência cultural. Hegemonia atualmente ameaçada pelo advento da internet.
   O universo da web teve o seu desenvolvimento em etapas. Primordialmente existiam apenas os sites como forma de divulgação de qualquer conteúdo, e não era simples possuir um. Com o surgimento do e-mail, surgiram também as correntes e os e-mails promocionais. A internet nos deu os blogs, os fóruns de debate e mais recentemente os vlogs.
   Eu enfatizei aqui a história dos meios de comunicação em massa. Pois como um ser social, eu também sinto a necessidade de expressão. Já escrevi um livro e tenho outros projetos em desenvolvimento, mas percebi logo que não posso evitar me render à contemporaneidade.
   Crio, então, um blog para fazer da minha palavra e da minha obra acessíveis para aqueles que buscam o saber. Prezo pelo senso crítico e pelo desenvolvimento consciente do conhecimento. Ninguém é dono absoluto da verdade, por isso devemos sempre questionar e buscar melhor conhecer sobre o mundo que nos cerca.
   Esse blog é direcionado aos indagadores de plantão, e também a aqueles que não aceitam verdade impostas por nenhum veículo que seja. Sintam-se livres para questionar minhas idéias para que juntos possamos evoluir. Pretendo em breve montar um vlog, só me desculpo previamente por não ser mais fotogênico.
“Não é por que é funcional, que uma prática se torna correta. Quem faz o certo sem entender porque o faz, peca na falta do conhecimento.”