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terça-feira, 2 de novembro de 2010

Seleção Natural?

            Ainda que não na devida frequência, por vezes eu penso sobre meu futuro e meus sonhos. Já me imaginei um engenheiro renomado e admirado. Um verdadeiro criador de maravilhas inimagináveis. Casado, dois filhos, morando em uma casa a qual eu mesmo teria projetado, arquitetado e preenchido com minhas criações. Imaginava-me como um verdadeiro Tony Stark.
            Quando jovens, o nosso futuro parece uma promessa distante, quase inalcançável. Torna-se fácil fazer promessas de mudanças para o tempo em que nunca imaginamos chegar. Mas um dia o tempo cumpre o seu papel e nos força a decidir por qual caminho tomar. Será que fomos preparados para este momento? Será que estamos preparando os nossos jovens para escolher suas profissões?
            Estou no primeiro período de engenharia elétrica, e já fui responsabilizado pela criação de um carrinho que siga a luz por conta própria. Empolgado com o projeto, já o desenvolvi em completo na teoria, fiz os componentes funcionarem dentro da minha arbitrariedade, mas não terminei o protótipo. Entusiasmado como não estive em um bom tempo, eu pareço estar finalmente começando a fazer aquilo que sempre sonhei; fabricar robôs. Sempre tive para mim uma visão poética a respeito dos ditos cientistas malucos, enfurnados em um laboratório por semanas seguidas. Excêntricos, porém ainda assim admirados por todos.
            Quando criança, meu pai (engenheiro elétrico, por não coincidência) me comprou uma protoboard que tem o dobro do tamanho das usualmente encontradas (são duas unidas em uma). E me ensinou a brincar com letreiros digitais, daqueles que se escreve usando sete leds em forma de traço de maneira a compor um oito na sua totalidade. A partir deles, eu escrevia qualquer número, e até mesmo algumas letras. Uma vez preparados o enorme emaranhado de fios, eu apertava um botão e um número aparecia. Apertava o botão novamente e o número se apagava. Até mesmo alguns chips eu cheguei a utilizar. Eu tinha nove anos de idade.
            Aos dezesseis, a minha paixão por dispositivos eletrônicos retornou quando tive de desenvolver um solenóide para servir de campainha. Sem temer exageros, peguei um bastão de ferro de dois centímetros de grossura e vinte centímetros de comprimento. Enrolei nele algo em torno de um metro de fio de cobre de 0,9 milímetros. Era um belo de um imã, potente que só vendo.
            Ainda que bem determinado para prestar o vestibular, eu me sentia desmotivado pela dúvida. Duvida que só surgiu quando comecei a escrever meu primeiro livro. Duvida que cresceu durante o meu pré-vestibular, quando fiz muitas amizades com “pessoas de humanas”.
            Com um bocado maior de maturidade a respeito do assunto, hoje eu diria que não existe tal coisa como ser uma pessoa de exatas ou humanas ou biomédicas. Pessoas são pessoas, somos feitos de várias ideias, e não apenas de um conjunto limitado de ideias. As pessoas têm interesses diversos, desejos diversos, sonhos diversos. Não podemos julgar alguém de maneira tão categórica e dividida.
            O que me leva a pensar sobre a forma com que forçamos nossos jovens a escolher por qual caminho tomar, para qual face de sua personalidade ele deve dar maior valor. Mas será que estamos dando a esses jovens as ferramentas certas para escolher que caminho ele deseja seguir para o seu futuro?
            Quando penso sobre nossas escolas, me enojo. Não pelas recordações pessoais, estas estão quase que completamente bloqueadas de minha memória (por conta dos maus bocados que lá enfrentei). Penso sobre como o conceito de estudo parece ter sido totalmente deturpado. Estudar, nada se relaciona a encarar a nuca de crianças da mesma idade por quatro horas e meia enquanto se anseia pela hora de voltar para casa e jogar videogame. Voltando um pouco para as minhas memórias pessoais, meu ensino fundamental e médio se resumiu a isso, ansiedade e desespero; impaciência, angústia! Não há quem possa suportar pelas horas e horas de aulas enfadonhas e desinteressantes. Pelo contrário do que possa pensar, eu era um bom aluno, tirava notas boas. Mas tudo por conta da minha capacidade de engolir enormes amontoados de conhecimento, e vomitar-los em uma folha na qual estava escrito:

            “Lembra daqueles assuntos os quais lhe falei em minhas aulas, e os quais você sublinhou-os em seus livros? Despeja-os aqui, o máximo que puder lembrar.”

            Para depois me esquecer em 99%, tudo o que supostamente deveria ter aprendido. Mas ora, que há de aprendizado nisso? Estudo, o verdadeiro estudo, começa quando se deseja obter um determinado conhecimento, é quando se reconhece a necessidade de um conhecimento, e então você persegue esse conhecimento. O estudo vem da necessidade de resolver um problema, ou de compreender melhor sobre um assunto.
            Eu sou um estudioso, mas nunca estudei na escola. Estudo sobre o que me interessa, e quando se trata de aprendizado, conhecimento nunca me falta. Vou tratar o assunto agora de uma maneira demais cretina ou inusitada (no mínimo). Que dizer ou pensar sobre os “Gamers”? Quanta injustiça eu vejo, mães que vêem seus filhos o dia inteiro na frente do computador jogando “joguinhos” e ainda dizendo que seus filhos nunca estudam. É deveras cego quem faz tal afirmação, pois saiba que seus filhos são verdadeiros estudiosos, da classe dos mais dedicados o impossível!
            Eles sabem tudo! Absolutamente tudo a respeito dos games. Muitos deles se tornam especialistas na área. Verdadeiros doutores sobre o assunto. Escrevem artigos, publicam pesquisas, discutem em fóruns e até mesmo dedicam prêmios dignos de prêmios acadêmicos para os maiores conhecedores e estudiosos dedicados para a área.
            Antes que me julgue (ou os julgue) pense que conhecimento é conhecimento. Não se pode olhar para um ou outro e dizer quem é melhor. Mesmo revista de fofoca traz algum conhecimento, mas cabe a nós decidirmos qual conhecimento devamos buscar.
            O que volta à pergunta original. Como saber se estamos dando aos nossos jovens as ferramentas para buscar o conhecimento por conta própria? Talvez, se deixarmos de forçar tanto conhecimento goela à baixo, eles poderão ter maior espaço e liberdade para escolher por conta própria, basta que forneçamos recursos para eles. Não existe maior incentivo do que a liberdade de escolher por cumprir ou não cumprir com os nossos desejos. 

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