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segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Desculpe, não havia te visto

            Depois de muito minha irmã insistir, eu sai da frente do notebook para ir à padaria comprar o pão. Eu entro no estabelecimento e encontro dificuldade para ser atendido. Todas as atendentes pereciam ocupadas demais fazendo qualquer coisa que fosse, até que uma moça muito educada perguntou se poderia me ajudar. Eu pedi por dez pães doces. Ela olhou para a prateleira, havia apenas 13 pães. Então se voltou para mim e perguntou:
            _Se importa de eu ir pegar lá de dentro? – Perguntou, caridosa.
            _Por quê? Esses pães estão frios?
            _Não, é porque se eu pegar daqui, eu vou precisar repor mais depois.
            Eu abri um sorriso enorme e não pude evitar rir, aceitei o pedido dela, já que “pão de dentro” é sempre mais quente do que os da prateleira. Quando a moça voltou, eu agradeci educadamente.
            Uma vez tendo selecionado tudo o que desejava (todos os itens da “lista” riscados) eu me direcionei ao caixa. Tentei dizer “boa tarde”, fui ignorado. Agradeci a compra, ignorado novamente. Quando estava saindo da loja, dei uma última olhada para trás, e pude ver a moça que me atendeu, sorrindo, observando o fluxo dos clientes da loja. Apesar de jovem, apesar de ter todas as outras funcionárias mandando, desmandando nela, estava sorrindo.
            Muitas pessoas vão, vem e trombam de ombros com os nossos todos os dias. Mas nunca paramos para observar-las, nem mesmo olhar-las no rosto quando andamos na rua. Olhar alguém no olho já parece ter tomado o sinônimo de ser uma forma de afronta, é “encarar” como nossas mães bem nos alertaram:
            _Não encara as pessoas na rua, é feio!
            Depende da maneira que se “encara” a idéia de olhar alguém nos olhos. Já experimentou sorrir para as pessoas na rua, todas elas, sem exceção? Em uma situação normal, vão pensar que você está sobre efeito de alucinógenos e dos bem violentos. Se for um homem de idade e estiver sorrindo para moças mais novas, vão te delatar para a polícia e ter acusar de perversão.
As pessoas não estão acostumadas a serem bem tratadas por estranhos. Correção, as pessoas estão mal acostumadas a não serem bem tratadas por estranhos. Com toda essa violência, estupros, pedófilos, ladrões, criminosos de todas as categorias, parece que não se pode confiar em mais ninguém. Como se todos os que excedem o seu conhecimento fossem potenciais criminosos que vão clonar o seu cartão e roubar a sua filha para vender nos bordeis europeus de luxo.
É claro que não se pode confiar em qualquer pessoa, mas existe também um limite para a questão de desconfiança. Não se pode desejar depositar 50 mil reais em uma conta de banco da África do sul, porque você recebeu um e-mail sobre uma velhinha que sofre de malária e precisa do dinheiro para o tratamento. O exemplo foi nítido para provar que só não vê o perigo e a necessidade de desconfiança quem não quer.
Mas eu não estou aqui para falar de paquera, ou pedofilia, ou mesmo do senhor que passa o dia inteiro sentado no boteco e que assobia todas as noites para a sua namorada. Eu estou aqui para falar das pessoas que passam despercebidas aos nossos olhos, mas não por que passam por nós no dia-a-dia sem termos tempo de sequer enxergar elas. Eu vim falar sobre a atendente da padaria, que tão bem me tratou (não, não estou apaixonado). Quero falar sobre todas as pessoas a quem ela ira atender ainda hoje, que não iram agradecer-la ou sequer olhar-la no rosto.
Garis, faxineiros, atendentes de caixa de supermercado. Outro dia fui à minha cafeteria favorita perto da universidade, e levei alguns amigos meus. Cumprimentei todos os funcionários. Mas quando vieram atender a minha mesa, eu senti agonia. Meus amigos faziam os pedidos olhando para o cardápio, e mal agradeciam quando o pedido chegava. Mais tarde, eu conversei com eles, pedindo que da próxima vez, ao menos olhassem a pessoa no rosto enquanto falam.
Talvez por um bizarro senso de classificação social, as pessoas tendem a enxergar como inferiores as pessoas que trabalham para atender a outras. Fazendo serviços que supostamente exigiriam menos estudos ou dedicação intelectual do que outras profissões, como médicos ou advogados. Já ouvi histórias sobre um homem muito bem de vida que pronunciou em uma mesa de restaurante onde levara uma bela guria:
_Pra quê agradecer um garçom? Ele só está fazendo o trabalho dele, e é bem pago para isso!
Acabou que o seu encontro levantou da mesa e nem sequer despediu dele. Pois a ele eu faria outra pergunta. Você agradece a um médico quando este te ajuda a recuperar seu joelho após um longo tratamento? Você agradece o seu advogado quando este te ajuda a não ser extorquido durante um divórcio? Caso não, você é bem ingrato. Mas caso sim, por que não faz o mesmo com o garçom que tão bem te atende? Ou você prefere buscar o seu prato na cozinha do restaurante?
O trabalho dignifica o homem, e a mulher com certeza! Nunca julgue uma pessoa pela função que desempenha. Fazemos todos parte de um só grande organismo, e uma parte não funcionaria bem sem a outra. Sem mais delongas sobre as implicações econômicas da questão, faço um breve pedido a todos. Tratem bem as pessoas à sua volta, ainda mais quando reconhecer que o seu dia não seria o mesmo sem a presença destas. Que a moça da padaria possa continuar sorrindo, e trabalhando sempre na sua felicidade inabalável.

3 comentários:

  1. bom,td que eu acho ja te disse......parabéns mais uma vez.Um dos melhores textos,em minha opinião.

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  2. "E a resposta para tornar o mundo um lugar melhor é: simplesmente, seja mais gentil!"
    Bom texto, simples, e acho que todo mundo deveria lê-lo... Parabens pelo trabalho Gunter, te admiro muito rapaz...

    Mauricio R .:. L

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  3. Muito Bom meu amigo... tava sem tempo de ler suas novas postagens mais Gostei especialmente deste, e vou recomendar a uma pessoa em especial...

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