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sábado, 30 de outubro de 2010

Nariz de Palhaço

            Qual é o reconhecimento que alguém recebe pelo trabalho realizado? Quem é que merece reconhecimento ou não?
            Bem estava eu a escrever algumas linhas forçadas durante a minha aula de Álgebra Linear. Sob o efeito de 300 ml de café com leite adquirido a troco de um real na cantina mais próxima do meu prédio, eu percebi que escrever é uma arte sem receita de bolo. Eu não posso pegar no lápis e chicotear os meus dedos ordenando-os:
            _Escreva alguma coisa legal e interessante!
             Sem o devido incentivo ninguém consegue escrever por escrever. Produzir sem propósito é o mesmo que soltar tiros contra o céu. Portanto, eu parei para refletir sobre a minha produção, e o que eu pretendo alcançar com ela.
            Ontem à noite eu recebi mensagens via Orkut de uma leitora o qual eu desconhecia até o momento em que fui contatado por ela. Ela veio me cobrando por mais postagens no meu blog. Lisonjeado, eu upei o primeiro texto que encontrei pendente em meu caderno. Mas passado o momento de euforia (Alguém andou lendo o meu blog!) eu me dei conta de como eu tenho sido demais negligente em relação aos meus objetivos e ideais.
            Ao som de Beirut, eu escrevo agora de dentro de uma cafeteria em frente à universidade federal do meu estado. Cafeterias são interessantes, elas parecem ter adquirido certo status de ambiente Cult. Pudera, pessoas com cabelos coloridos, alargadores e pircens parecem ter formado uma nova classe de intelectuais extrovertidos e descolados, os prováveis Geeks. Quando eu penso sobre qual é o perfil de leitores que eu teria em vista, eu penso na população dos cafés que eu conheço e frequento, pessoas ditas “alternativas”.
            Mas para onde ir a partir disso? Eu não sou exatamente um Stephen King da vida, que parece escrever livros no mesmo ritmo com que eu saio para beber com os meus amigos (no mínimo um livro novo por semana). Os jornais deveriam manter uma pequena coluna na edição de sábado dedicado exclusivamente para este cara na sessão cultural.
            _Olhe só, vão lançar um remake de branca de neve. Um grupo de teatro chegou ao nosso estado interpretando Capitu e Stephen King lançou um novo livro.
            Com um projeto de eletrônica e mais duas provas de cálculo e álgebra pela frente, é difícil pensar sobre temas interessantes para escrever. Eu estou no momento enfrentando o impasse de todo bom blogueiro, a falta de tempo disponível para se dedicar exclusivamente a escrever para o blog. Tudo bem que a maioria dos blogs que eu vejo fazendo sucesso consistem em mera reprodução de imagens engraçadas e ou reportagens com notícias absurdas. O gênero humorístico parece ter ganhado muita força nos últimos temos.
            Só me resta colocar um nariz de palhaço, talvez assim eu ganhe mais acessos. Eu vejo a maneira com que os comediantes parecem constituir uma classe privilegiada no meio intelectual. Pelo visto, não basta dizer coisas interessantes e verdadeiramente construtivas, você precisa ser engraçado enquanto o faz. Não vou mencionar nomes que eu gostaria de usar para ilustrar pessoas que são maus exemplos do que acabo de descrever. Do contrário, vou falar sobre dois dos meus comediantes favoritos (um recém adquirido). George Carlin e Billl Hicks. Em especial, Carlin foi considerado o mestre da contra-cultura, o boca suja. Ele é famoso por fazer pesadas críticas à religião de maneira lógica, inteligente e graciosamente hilária.
            Não faz mau querer chamar a atenção das pessoas para o que você deseja expressar utilizando do humor. O que não vale é deixar cair a qualidade do seu discurso em detrimento de fazer as pessoas rirem. Muito do que eu falo seria praticamente inconversível para uma lírica humorista. Não porque não se pode fazer humor com as minhas palavras, mas é que mesmo através do humor as pessoas não compreenderiam as minhas palavras. Eu confesso minha prosa não é exatamente a das mais simples e acessíveis para grandes e memoráveis audiências. A maioria absurda das pessoas a quem se apresentar esse texto irá cair no sono no primeiro parágrafo. Não é tanto culpa minha quanto eu posso dizer. É culpa minha se o brasileiro lê 0.8 livros por ano? Isso é claro, por que os que realmente lêem livros lêem muito mais, mas pagam nas estatísticas pela grande maioria que não lê livros.
            Então, com o objetivo de fazer de suas palavras um enorme sucesso, muitos humoristas apelam pelo uso de um pseudo senso crítico. Falam de tudo aquilo que as pessoas não dão tanto valor ou atenção no seu dia-a-dia, mas também não acrescentam nada de novo a ninguém.
            Voltando às minhas ideias e a minha produção, acho que finalmente alcancei um novo objetivo. Vou seguir o ideal de promover ideias que realmente carregam algum cunho crítico em seu discurso. Abrir os olhos das pessoas, e fazer-las enxergar uma realidade nova, uma realidade onde a opinião delas conta, e conta muito! Não se sintam piores ou diminuídos só por que ninguém dá bola para o que você tem para dizer (veja como eu não tenho público mas continuo a produzir). Seja quem deseja ser, mesmo que só para si mesmo. Mas não se deixe iludir com as mentiras que inventamos para nós mesmos para nos sentirmos melhores. O pior tipo de charlatão não é aquele que mente apenas para tirar vantagem dos outros, mas para se sentir melhor sobre a pessoa que ele é.

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