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terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Brasil-Português

           Nem sempre gostei escrever. Aos meus 14 anos fazer engenharia elétrica era uma idéia nítida e inviolável. Tendo meus hábitos mentais totalmente voltados para o campo das exatas, eu tentava esquematizar o meu estudo de maneira lógica e metódica nas outras matérias. Criava teoremas, padrões, regras, e modelos matemáticos para me facilitar o estudo das coisas que não pareciam tão claras e óbvias quanto “ax +b = y”.
            Ainda que depois de reencontrar-me com minha veia filosófica e metafórica, eu continuo por utilizar de equacionamentos dentro das ciências mais subjetivas, como a história e a sociologia. Fiz dessa característica o meu diferencial. Permitindo-me enxergar eventos e acontecimentos de maneira por muitos tida como inusitada. O que para outros possa ser visto como palavras desconexas e abomináveis, para mim é racionalização e lógica. Fato é que no campo das humanas, não existe resposta errada, apenas uma forma diferente de enxergar as coisas.
            Um dos diversos modelos que criei na minha época de colegiado foi sobre o processo de colonização ocupacional. Imaginemos uma civilização X que deseja dominar e colonizar uma civilização Y. Existe uma série de processos e recursos que a civilização X terá de lançar uso durante o processo de domínio. Primeiro, ela terá de impor sua ocupação através da superioridade bélica. Caso queria evitar um massacre, ela terá de exibir as suas armas mais poderosas, a fim de intimidar a civilização Y, e dominar-la então pelo medo.
Uma vez dominando o território pela força bélica, é preciso conquistar o seu espaço no meio cultural da civilização Y, substituindo a cultura de Y pela cultura de X. Devem ser abertas escolas para ensinar aos cidadãos de Y, a língua, a história e toda a doutrina da sociedade natal de X. Passar ensinamentos religiosos, de maneira a derrubar a religião de Y, e por fim impor todo o regimento de normas e comportamentos de X em Y.
Como se não bastasse, X deverá por os recém convertidos cidadãos de Y para trabalhar nos ofícios por eles designados. Parênteses: Eles devem trabalhar em ofícios de baixa e média remuneração, e cujo lucro do trabalho fique concentrado nas mãos de X, deixando para os trabalhadores de Y apenas o salário obtido pelo mais valia.
Uma vez definido o modelo acima, dele pode-se referir diversos exemplos, e acrescentar também diversas variações. Lembrando que o processo descrito acima não trata da colonização mercantilista. Dado tal idéia, quais exemplos você, leitor, procuraria referir sobre esse modelo descrito? Em uma representação de (X,Y), citaríamos (Inglaterra,Índia); (EUA,Japão); (Inglaterra,Treze Colônias); (Inglaterra,África do Sul). Mas como o título dessa prosa bem sugere, deve imaginar que eu estou aqui para falar sobre a colonização brasileira. Pois para ser sincero, foi exatamente o exemplo no qual me baseei para montar esse modelo. Mas não estou aqui para falar do nosso ouro nas igrejas de Portugal. Nem mesmo sobre o nosso ouro que foi usado para propulsionar a industrialização da Inglaterra (Não consegue ver a ligação? Desculpe, não quero fugir do foco).
De toda a minha analise, o elemento inusitado eu sempre guardo para o final. Pois após ser bombardeado noite e dia com notícias e comentários sobre a ocupação das favelas no Rio de Janeiro, não posso evitar falar sobre o assunto que não gostaria redundar em meu blog. Mas quando a realidade reflete nas minhas obras anteriores aos acontecimentos, por mais que me custe, sou obrigado a trazer um feedback.
Já estabeleci aqui antes, na minha postagem sobre o “Tropa de Elite 2” (Vinagre), mas volto a pontuar. As favelas do Rio de Janeiro já estão em um perfeito estágio de paralelismo de poder com o nosso estado. Funcionam exatamente como um núcleo independente, utilizam de táticas de guerrilha e comportam-se como uma. Em muito a ocupação das favelas do Rio, coordenado com a autorização do Governo do Estado do Rio de Janeiro, se assemelha para mim com uma operação de reconquista. Um processo colonial, onde o nosso estado (brasileiro?) pretende dominar e conquistar o território que foi perdido para o estado paralelo.
As FARQ’s, o IRA, o ETA, e diversas outras regiões que desejam ou já desejaram emancipação territorial do estado vigente no país em que vivem, fizeram uso do terrorismo para tentar impor suas independências como nações. Suas lutas, ainda não alcançaram a vitória em nenhum exemplo que possa ser citado. Não seria diferente com os traficantes das favelas. Mas caso me pergunte, em que ponto eles praticaram terrorismo, peço que junto com uma revisão das últimas notícias sobre o Rio de Janeiro antes da operação das forças armadas, leia o texto que virei a expor abaixo. É a declaração que foi distribuída em forma de carta aberta para os moradores das favelas e das regiões periféricas à mesma:

           “Atenção

            Foi decretada pela união dos partidos dos partidos CV, ADA e CTP todos outros partidos que tenha respeito e lealdade, força, humildade e amor no coração e muita dignidade a favor de toda comunidade, por favor se unam a nós.
            Foi decretado pela união dos partidos, que quando tiver repressão da polícia em qualquer favela fazendo covardia, derramando sangue, todas as comunidades pegaram seus fuzis e atiraram em prédios, em carros importados e no que tiver de mais rico próximo a sua favela, saqueando empresas, lojas e mercados!
            Foi decretado pela união dos partidos, que cada morador inocente pobre que a policia matar, morrerá duas pessoas ricas.
            Foi decretado pela união dos partidos, que cada integrante de partido que a polícia matar morrerá dois policiais e seus familiares, pela união das comunidades que cansou de covardia dos policiais e do sistema, porque são eles que trazer as drogas e as armas, o empresário financia e a policia facilita ficam os políticos roubando bilhões, matando muita gente só com uma caneta, depois quer mandar quem trás as drogas e as armas para o partido vir aqui na comunidade e matar inocente pobre não dá lucro para boca de fumo, quem compra todas drogas são as classes médias e os ricos.
            ‘Irmão, pode pisar em qualquer favela olhando na bola dos olhos, mostrar que esse modo de agir é retrólogo, a revolução verbal é aterrorizadora, junta seus pedaços e vem para a arena nosso irmão do PCC  falou que o inimigo está de terno e gravata e em nome da paz e a favor de todas as favelas, que é a hora de união, de revolução. Definitivamente, sem união não dá, então vamos todos juntos.’ “

            Esclareço aqui, que apenas transcrevi a carta exatamente como esta foi enviada. Sem o menor rigor de regência temporal ou nominal, sem coesão textual e nem mesmo uma pontuação digna de legível. Acho que fica bem claro que não inventei tal carta, apesar de não ter tido contato direto com ela. Mas dela, eu gostaria de destacar apenas um parágrafo:

“Foi decretado pela união dos partidos, que cada morador inocente pobre que a policia matar, morrerá duas pessoas ricas.”

            Essa, para quem não percebe, é uma declaração de guerra, uma promessa terrorista. Pois então, dito e feito. Os atentados do dia 23 de novembro se aconteceram devido à promessa de guerra feita pela “união dos partidos” dos guerrilheiros das favelas do Rio.
“Favelas do Rio”, “Traficantes”, tento dar um nome para esse estado paralelo, mas me esqueço que ele tem nome. O PCC (Primeiro Comando Capital) já tentou assumir e coordenar revoluções no passado. Todos lembramos bem das centenas de ônibus queimados todos os dias nas grandes capitais do Sudeste. Na época, o fogo parecia ter sido contido, mas pelo que se percebe, ele apenas correu para o subsolo, e lá, cresce até que pensou estar forte o bastante para emergir e mostrar a sua fúria.
Primeiro o estado republicano (não posso apontar para um e chamar de Brasil) ocupou o território utilizando de toda a sua força bélica. Tudo com o intuito de combater velozmente os guerreiros da região, deixando o mínimo de vítimas civis no território (durante a operação, é claro). Estamos agora no período de pacificação, onde a população local começa a ganhar certo afeto pelos dominadores. Em seguida já se pretende colocar em prática o programa de redirecionamento cultural. Centros de recreação, centros de referência cultural para o jovem (como o que eu frequento na minha cidade) e escolas por toda a região.
Avançando mais no processo, pode-se ainda condicionar essa população para trabalhar em empregos de baixa remuneração. Explorando a mão de obra deles e aproveitando para ampliar o mercado consumidor. Analogamente aos operários de máquinas de tecelagem durante a revolução industrial da Inglaterra. Onde o operário gerava um lucro dobrado para os grandes empresários, pois além de trabalharem ganhando muito, o escasso salário servia para alimentar novamente os empresários, pois dependiam dos produtos industrializados para sobreviverem.
Ampliando a idéia da etapa citada acima, é a maneira mais comum de concentrar as riquezas nas mãos de poucos. Mantendo uma classe operária como rebanho extensivo, salários baixos, mas que dão condição a eles comprarem os produtos produzidos pelos próprios patrões. Conclusão, o dinheiro sai das mãos dos grandes empresários através dos salários, mas retorna com a venda dos produtos aos próprios operários.
Segundo parênteses: Como você imagina que a economia brasileira tem crescido nos últimos 4 anos? A mesada, chamada salário mínimo mais bolsa família estendida pelo governo lula, engrossou a classe econômica C que passou a ter mais poder de consumo, movimentando mais o mercado das indústrias e empresas brasileiras. Resultado? Mais dinheiro nas mãos de quem já tinha muito dinheiro, e salário mixuruca para os trabalhadores.
Eu citei o exemplo da chacina dos traficantes do Rio, como a pior solução possível na minha postagem sobre o TE2, pois já que fiz uma previsão certeira, eu deixo aqui o meu segundo aviso. Por mais que pense como certo ocupar as favelas, matar os traficantes e doutrinar essa população a tanto tempo oprimida, não se esqueça dos nativos que aqui viviam antes dos portugueses chegarem. Sim, justamente o primeiro exemplo que você pensou quando falei em colonização. Agora pense em todas as emoções que se expressaram na sua juventude rebelde, quando estudou sobre a exploração portuguesa em nossa terra. Pois o nosso estado está cometendo a mesma abominação. Concorde comigo ou não, a minha previsão é essa. De Brasil em Brasil, nós nos perdemos na nossa imensidão, pois te peço agora: “Brasil, me mostre a tua cara!”, pois não te reconheço mais.

Um comentário:

  1. Aew manolão!!!
    Te indiquei pr aoutro selo ai ó
    http://vingadores-vg.blogspot.com/2010/12/selo.html

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