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quarta-feira, 29 de setembro de 2010

A Maneira com que percebemos as coisas

   Esta vendo está linha de texto que leu agora mesmo? Olhe novamente, ela já não é mais a mesma. O mesmo vale para todos os objetos que lhe cercam neste mesmo instante, incluindo o seu próprio corpo. Isso acontece por uma razão muito simples. Tudo o que você vê, está na verdade sendo refletido pela luz. Portanto tudo o que chega aos seus olhos é apenas uma fotografia do passado daqueles objetos. Isso sem mencionar o fato de que os objetos estão em constante movimento devido às vibrações das moléculas, e também estão em constante transformação mórfica devido às reações químicas.
   Atrelada com todas essas idéias, ainda temos a nossa memória inferindo sobre a nossa visão. Para evitar o desgaste de armazenar, a todo o momento, toneladas e toneladas de informações, o nosso cérebro chegou a uma interessante solução. A nossa visão está constantemente comparando o que vê com coisas que já conhecemos. Exemplo, quando você se recorda de ter visto um dito objeto, mas não é capaz de descrever-lo em detalhes, apenas identificar qual objeto era. Tomando como base as semelhanças, entre o que se vê e a imagem obtida, nosso cérebro literalmente vê o que quer. A consequência disso é conseguir enxergar monstros ou espíritos, onde só havia sombras, principalmente depois de assistir um filme de terror.
  Com isso, tomamos a conclusão de que a visão pode sofrer influência do nosso estado emocional. E a nossa capacidade de enxergar alguma coisa ou não, depende também do nosso conhecimento. O cérebro maduro odeia ser colocado em frente de algo que ele não compreende. Por isso ele está o tempo todo tentando comparar o que vê com algo ou alguma ideia que ele conhece previamente.
   E o que dizer a respeito dos trovoes? Trovoes são um tanto lentos não concorda? É possível contar os segundos de diferença entre a chegada do relâmpago e a chegada do trovão. Porém, ainda assim, não se pode confiar em nenhum dos dois para precisar o momento em que o raio caiu.
   Ambos, visão e audição, são os sentidos mais frequentemente usados por todos nós para percebermos a realidade que nos cerca. E ainda assim, são os sentidos mais falhos e imprecisos que possuímos. Exemplo disso é a maneira com que a nossa visão se deixa tão facilmente ser enganada por uma ilusão de ótica. Ou ainda, a maneira com que a tecnologia de áudio MP3 é capaz de fazer a sua audição lhe informar que tem um determinado som que está sendo emitido a uma determinada distância ou posição dos seus ouvidos. Quando, na verdade, se é sabido que os fones estão grudados nos seus ouvidos. Mas o melhor exemplo, aquele em que todos os seus sentidos lhe apontam uma mentira, é quando você é posto de frente para um Ilusionista. O Ilusionista é habilmente capaz de fazer todos os seus sentidos lhe apontarem como certa, uma ideia equívoca.
   Como consequência de termos uma capacidade sensorial tão pobre e limitada, nós temos extrema dificuldade de traduzir a realidade do universo nas nossas linguagens e ciências. Percebemos bem isso quando tentamos afirmar verdades ditas absolutas a respeito da realidade que tanto afirmamos perceber ou sentir.
   Se analisarmos a história da construção do saber e do conhecimento através de métodos empíricos e racionais, encontraremos um volume exorbitante de erros:
   _O átomo é indivisível! - Afirma Dalton.
   _Que isso! Ele é composto de partículas com cargas jogadas em uma gelatina de carga oposta à das partículas. – Explicou Thompson.
   _Lhes faltam é critério experimental, senhores. O átomo é organizado em camadas de partículas minúsculas que giram em torno de núcleo maciço, porém pequeno. – Monologa Rutherford.
   _Que viajem! – Exclama Dalton.
   _Muito interessante Rutherford, mas esqueceu de mencionar sobre os sub-níveis e os orbitais. Tirando isso, você até que descreveu muito bem! – Completou Bohr.
   _Agora eu me embolei todo! – Se confunde Thompson.
   _Somos dois então! – Concorda Dalton.
   _ Na verdade, faltou um bocado de coisas. – Interfiro eu.
   _Como? – Indagam todos, menos eu, em uníssono.
   _Faltou falar sobre os quarks, sobre o spin dos elétrons e dos prótons. Faltou principalmente explicar que a matéria é composta por uma infinidade de minúsculas cordas que vibram na décima dimensão.
   _A juventude está perdida! – Se espanta Dalton, apoiado pelo Thompson.
   _Será que até o ponto aonde nós chegamos, não está bom demais? – Pergunta Bohr.
   _Não! Não está! – Enfatizo eu.
   _Não está sendo um pouco exigente demais? – Se defende Rutherford.
   _Não exijo nada além de que me descrevam a realidade com a mesma precisão com que todos vocês acreditavam estar fazendo. – Concluo eu.
   Eu poderia fazer diversas outras estórias como essas para diversas outras ciências, com diversos outros personagens. Eu contracenaria com Lamarc e Darwin. Discutiria traumas de infância com Freud e ainda bateria um papo muito cabeça com Thomas Hobbies e Platão. Porém eu julgo ser estritamente desnecessário.
   Por mais que nos esforcemos, a capacidade que temos de perceber e traduzir a realidade é limitadíssima e falha. Por isso, por mais que possamos apontar hoje para uma afirmação e atestar-la como verdade, ela será apenas uma aproximação da realidade.
   Para que algo possa ser dito como verdade, deve antes passar pela provação das perguntas. Se uma afirmação, depois de questionada sobre os mais variados prismas possíveis, se manter verdadeira, passará a ser o que possuímos de mais próximo da realidade. Pois caso surja outra pergunta que coloque essa afirmação em incoerência interna ou mesmo em contradição, passará a ser necessário a elaboração de outra afirmação que se sustente melhor.
   E assim deveria proceder-se o desenvolvimento do conhecimento. Com o mínimo de postulados possível, e sem nenhuma verdade empurrada ou mesmo aceita sem questionamentos.
   Concluo, pois dizendo que todo o saber que possuímos hoje se manterá verdadeiro apenas, e exclusivamente, até que surjam idéias que combatam esse saber na devida eficácia. Até lá, praticaremos as aplicações sobre o que conhecemos com a devida funcionalidade. Mas nunca nos esquecendo de uma ideia:
   “Não é por que é funcional, que uma prática se torna correta. Quem faz o certo sem entender porque o faz, peca na falta do conhecimento.” 

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