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segunda-feira, 9 de maio de 2011

Entrevista com Pensadores Mortos

            Como parte da nova programação do blog (ou a recém adquirida programação), serão promovidos aqui debates toda segunda-feira, entre dois ou mais, grandes estudiosos, pesquisadores e pensadores do passado.
            Homens que marcaram a história com suas idéias de descobertas. Mas como hoje, eles estão mortos, em maioria, eles não conhecem as consequências de seus estudos sobre a sociedade do futuro. Eu gostaria de destacar tal, pois alguns deles não fazem menor ideia de que têm seus nomes mencionados e seus rostos estampados nos livros de história, geografia, matemática, e mesmo biologia. Como é o caso de um dos nossos entrevistados da noite. Chamo aqui, Charles Darwin e Mendel.
            (Aplausos)
            Mendel entra utilizando uma bata marrom, cabelo em corte de cuia, e um terço entre as mãos. Darwin entrou com um charmoso terno preto, com uma cor branca social por debaixo do paletó preto, e ao que me parece, ele penteou a barba:
            _Eu gostaria, a princípio, de agradecer à presença dos dois no meu humilde blog. É uma enorme honra e prazer estar na presença daquele que levou o nome da teoria da evolução, e o pai da ciência genética, nunca antes reconhecido, ao menos não em vida.
            _Meu jovem, você é um rapaz inteligente, mas tem idéias muito estranhas. – Mendel toma a voz, em evidente preocupação.
            _Oh, ok. Se importa de me explicar por que?
            _Primeiro, eu não sou o pai de nenhuma ciência ou coisa assim. Sim, eu soube, eles me reconheceram mais tarde a respeito dos meus estudos sobre a hereditariedade das características fisiológicas das ervilhas. Mas o verdadeiro pai, dono de toda a verdade, é Deus Pai, o meu Senhor. –Darwin revira os olhos, inquieto.
            _Tudo bem. Esse foi o seu primeiro ponto, mas eu suponho que tenha ao menos uma segunda colocação a fazer, certo?
            _Sim! Enquanto esperava a sua chamada para entrar no estúdio, eu li alguns dos seus textos nos seus arquivos. E lá, eu percebi que você tem idéias muito estranhas sobre muitas coisas. Sobre Deus, e sobre essa prática vil e terrível que é o aborto.
            _Mas veja agora, o entrevistador aqui, sou eu! Você pode ver as minhas idéias como estranhas. Mas as suas próprias, não tiveram reconhecimento enquanto você estava vivo.
            _Mas é claro! Ninguém queria saber do pobre Mendel. Eu deveria saber, é preconceito com a minha fé! Eles só tinham olhos para esse outro ai!
            Eu levanto a mão e peço a Darwin para que tenha calma:
            _Calma aí! Você esperava o que? Um senhor que vivia nas colinas, não conversava com quase ninguém se não com suas plantas, falava para dentro, e ainda queria que alguém prestasse atenção para a sua tese sobre a reprodução das plantinhas?!
            _Mais respeito, por favor?! O meu estudo é sério! Aliais, tão sério, que os estudiosos do futuro reconheceram ele!
            _Agora você esbarra em um ponto no qual envolvemos nosso digníssimo Darwin! Eu estudei certa vez em uma escola que levava seu nome, curioso não?
            _A princípio eu gostaria de dizer que, eu aprecio e admiro muito o trabalho do Mendel. Nossas pesquisas, juntas, trouxeram grandes avanços para a medicina moderna, a medicina preventiva, e mesmo a evolução da sociedade como corpo intelectual.
            _Oh, claro. No caso, as SUAS teorias tornaram um mundo um lugar melhor? – Mendel se revolta.
            _Calminha, calminha. Mendel, todos nós sabemos que você escondia e descartava os resultados “fora do padrão”, só para que as contas batessem.
            _O que?! Isso é um absurdo de se afirmar!
            _Hoje nós sabemos muito bem. O cruzamento de dois heterozigotos não “rendia” exatamente um quarto de homozigotos dominantes, um quarto de homozigotos recessivos, e um meio de heterozigotos. As contas nem sempre eram tão exatas assim, não é mesmo?
            _Mas estava tudo dentro de uma margem de erro. Erros experimentais! – Mendel arrisca lacrimejar os olhos.
            _Não, não eram. Isso faz parte da natureza, é algo que você deveria ter considerado, mas desprezou. Esses “erros” faziam parte das leis do SEU Deus Pai, e você simplesmente desprezou, e permaneceu na idéia de que sua teoria era correta, e completa.
            Mendel desmancha na cadeira. Darwin o olha com menosprezo, e peculiar indiferença sobre o sofrimento alheio:
            _Quanto à teoria de Darwin. Bem, ela viria a complementar e explicar essa “margem de erro experimental”. A sua teoria sobre a seleção natural faz perfeito sentido em explicar e diferenciação e a distribuição das qualidades e características passadas pelos pais. Ele teria seu nome imaculado na história se não fosse pela necessidade de acrescentar um “neo” no título de sua teoria.
            _Como isso? – Darwin se surpreende ao que se via envolto em elogios.
            _Você não explicou como surgiam das novas características. Faltou explicitar a respeito da mutação genética. Você foi eficiente em desbancar o Lamarckismo, mas ainda faltou uma peça do quebra cabeça. Peça, talvez, que teria sido complementada pelos “erros experimentais” de Mendel. É uma pena que na história do conhecimento, nem sempre houve a colaboração necessária entre os estudiosos que poderiam trabalhar de mãos dadas, mas preferiram se isolarem em seus cantos, cercados em suas ilhas de soberba e orgulho próprio.
            _Como você pôde? – Mendel volta a falar, já de olhos vermelhos.
            _Como foi?
            _Não estou falando com você, seu desalmado. Aliais, vocês dois, são dois desalmados! Estou falando com esse de barba branca. – Darwin se espreme torcendo o corpo na cadeira, assustado. – Como você teve coragem de profanar o nome de nosso Senhor com suas teorias odiosas? Como pôde dizer algo tão vulgar e ridículo como o homem ter surgido do macaco?!
            _Aqui vamos nós outra vez. – Darwin revira os olhos.
            _O nome – eu encaro Mendel, com a sincera vontade de voar em seu pescoço e sufocar-lo – é AUSTRALOPHITECUS!!!
            Mendel retorno o olhar para mim, severo, e com aparente pesar:
            _Acho que já rendeu o quanto era possível render. Eu declaro essa entrevista encerrada.
            Mendel é o primeiro a desaparecer, transparecendo e flutuando, feito fumaça. Darwin o observa partir, então me olha nos olhos, sorrindo com estes, e então se levanta e caminha até a sombra do canteiro, sumindo dentro desta.
            Esta foi a primeira entrevista com pensadores mortos. Ao que me parece, serão sempre discussões tensas e dramáticas como essa. Eu repito e peço compreensão, pois muitos desses homens, não conhecem a repercussão de suas descobertas e pesquisar sobre o mundo atual. Peço desculpas pelo transtorno, e espero que tenha sido proveitoso de alguma forma.
            Até a próxima segunda feira, onde trarei Isaac Newton e Albert Einstein para discutirmos sobre a física relativística e a distorção e contração do espaço tempo. Até a próxima! 

3 comentários:

  1. Ah poxa tadinho do Mendel, vc ficou muito do lado do "desalmado" kkkkkkkkkkkkkk

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  2. Isaac Newton e Albert Einstein!!
    Esta eu ñ posso perder!
    Muito criativo gunter, parabéns!

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